quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Bombeiros Perdem 5,2 Milhões

A redução em 70% dos serviços prestados pelas corporações de bombeiros, no transporte dos doentes não urgentes, poderá resultar em prejuízos na ordem dos 5,2 milhões de euros. Para reduzir a despesa, algumas corporações já foram obrigadas a despedir bombeiros. Cerca de 300 já foram para a rua, estimando-se que mais 700 percam o emprego em breve.

Os problemas financeiros dos bombeiros agravaram--se com a decisão do Ministério da Saúde em limitar o acesso dos utentes ao transporte gratuito. Desde o Verão que só têm direito a transporte grátis os utentes com rendimentos inferiores ou iguais ao salário mínimo nacional (485 euros) ou com doenças incapacitantes.

A diminuição do número de doentes transportados coloca em risco 80% das corporações, muitas já em risco de falência.

Cada vez que uma ambulância sai em serviço cobra 7,5 euros ao Estado. Estima-se que as 456 corporações de bombeiros voluntários façam um milhão de transportes por ano. Com a alteração das regras, os serviços caíram 70% e os bombeiros perderam 5,2 milhões de euros de receita. Com a diminuição das receitas, os quartéis vêem-se obrigados a despedir, colocando em risco o socorro às populações, no transporte de doentes e no combate aos fogos.

O problema levou já dez corporações dos concelhos de Sintra e da Amadora a ameaçar recusar o transporte dos doentes não urgentes a partir da próxima quarta-feira, dia 4.

Para evitar a greve, foi ontem retomado o diálogo entre bombeiros e o Governo. O grupo de trabalho tem agora 60 dias para apresentar propostas.

Jaime Soares, que tomará posse a 7 de Janeiro como presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, afirmou ao CM que os custos com o gasóleo aumentam, mas o preço pago pelo Governo "mantém-se" há anos. No final da reunião, a Liga pediu "urgência" na resolução do problema alertando que os bombeiros "não aguentam mais tempo as quebras de serviço".

CORPORAÇÕES DO NORTE DO ALENTEJO "COM A CORDA NA GARGANTA"

Grande parte das 15 corporações de bombeiros do distrito de Portalegre está "com a corda na garganta". Quem o garante é Francisco Louro, comandante dos Bombeiros de Gavião e presidente da Federação Distrital de Bombeiros, que assegura que o cenário "tende a piorar", o que pode levar a pôr em causa o socorro às populações. "Ou se tomam medidas urgentes de forma a sustentar a abnegação e a dedicação destas pessoas que tudo fazem para salvar vidas, ou a sua função está comprometida", frisou. Como no resto do País, na base do problema está o corte nas receitas do transporte de doentes, "sendo as despesas cada vez maiores", diz o mesmo representante.

MINISTRO DISTRIBUI 200 DISFIBRILHADORES

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, entregou ontem 200 desfibrilhadores a corporações de todo o País. Duarte Caldeira, presidente cessante da Liga dos Bombeiros Portugueses, sublinhou a parceria dos bombeiros na saúde, com o transporte dos doentes não urgentes e na emergência pré-hospitalar. Alguns bombeiros criticaram a entrega tardia dos desfi-brilhadores.

SUSPENSÃO DE CONTRATOS E ORDENADOS EM PERIGO

"A situação dos bombeiros algarvios está presa por um fio", alerta Teodósio Carrilho, da Federação de Bombeiros do Algarve. E garante que, se não for conseguido um acordo com o Ministério da Saúde para o transporte de doentes não urgentes, "todas as associações da região terão de fazer despedimentos".

A Associação dos Bombeiros de São Bartolomeu de Messines (Silves) é uma das que está em maiores dificuldades. Em Janeiro, sete bombeiros ficarão em lay-off (suspensão dos contratos). A associação tem despesas de 50 mil euros por mês, mas só tem receitas no valor de 25 mil.

Em Vila Real de Santo António, só a dívida em combustível atinge 50 mil euros e, já este mês, os ordenados estiveram em risco. Para assegurar a sustentabilidade da corporação, a autarquia começará a cobrar um euro por recibo de água, cuja verba irá para os bombeiros. Em Vila do Bispo, o passivo atinge os 700 mil euros e o presidente da associação, José Jaime, admite que a corporação pode entrar em insolvência, em breve.

Álvaro Bila, dos Bombeiros de Portimão, diz que a situação financeira das associações da região é grave e que têm de ser tomadas medidas para reduzir custos, o que poderá passar "por várias associações começarem a partilhar serviços".

"TAXA DE 2€ PERMITE CONTRATAR", Luís Pimentel, Cmdt. Bombeiros Agualva-Cacém

Correio da Manhã – Há corporações que defendem a criação de uma taxa de um euro para ajudar os bombeiros. Concorda?
Luís Pimentel – Há muitos anos que defendo essa medida. Se cada contador de água de Sintra pagasse dois euros, dava para contratar, pelo menos mais sete bombeiros profissionais.

– Qual é o salário médio?
– Entre 800 e 900 euros, suportados por três entidades.

– Já despediram bombeiros?
– Por enquanto, ainda não. Se acontecer, significa falta de combate a fogos e menos transporte de doentes
Fonte: CM

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