A partir de sábado e pelo menos até quinta-feira as temperaturas vão baixar ainda mais. A população deve preparar-se para uma possível onda de frio.
Um casal de idosos de Vinhais (Bragança) foi descoberto sem vida em casa, no sábado passado, supostamente intoxicado por gases libertados por uma braseira deixada a arder para aquecer a habitação. O alerta foi dado pelos vizinhos que estranharam não ver os idosos há alguns dias e trataram de avisar a GNR. As autoridades suspeitam que o casal morreu durante o sono intoxicado pelo monóxido de carbono libertado por uma braseira deixada a arder, numa altura em que o Nordeste Transmontano regista temperaturas negativas durante a noite. Os dois idosos terão sido das primeiras vítimas mortais indirectas do fenómeno que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) classifica como “episódio prolongado de frio”.
Um fenómeno que se pode transformar numa onda de frio já na próxima semana, uma vez que as temperaturas vão descer ainda mais a partir de sábado e continuarão assim durante alguns dias, explicou ao PÚBLICO a meteorologista Ilda Novo. "Tecnicamente, para se considerar que estamos perante uma onda de frio é preciso que as temperaturas permaneçam cinco graus abaixo da média, durante seis dias consecutivos", explicou.
Nos próximos dias e pelo menos até 5 de Dezembro, segundo o IPMA, prevê-se a continuação de temperaturas mínimas baixas, inferiores a 5 graus na generalidade do território, com valores entre os quatro graus negativos e os dois graus nas regiões do interior. “Estamos sob a influência de uma massa de ar frio transportado do interior da Europa Central. É uma situação persistente que, acompanhada pelo vento e céu limpo, faz com que haja um arrefecimento nocturno significativo”, explica Ilda Novo.
Seja como for, mesmo sem estarmos a atravessar uma vaga de frio, as temperaturas baixas que se têm feito sentir um pouco por todo o país já levaram a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), o IPMA e a Direcção-Geral de Saúde (DGS) a emitir uma série de alertas e recomendações à população no início desta semana. Porque o frio pode ter consequências graves se as pessoas, sobretudo as mais vulneráveis, não se precaverem.
“As casas estão pouco adaptadas ao frio e as pessoas tentam compensar este problema. É necessário que tenham grandes cuidados com lareiras, salamandras, braseiras e equipamentos de gás. Devem desligar tudo quando vão dormir e não ter a casa toda calafetada e fechada, mas sempre arejada”, avisa a subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas. “A morte silenciosa é evitável”, sublinha a médica, remetendo para as recomendações efectuadas pela DGS e que podem ser consultadas no site www.dgs.pt.
O frio pode matar e até mata mais do que o calor em Portugal. Não porque provoca directamente mortes por enregelamento ou hipotermia, como acontece noutros países europeus, mas de uma forma indirecta, devido a intoxicações, acidentes, quedas, pneumonias. No Inverno, além do frio, a gripe é outro factor que tem um impacto no aumento da mortalidade, lembra Paulo Nogueira, da DGS.
Há mesmo um fenómeno que está neste momento a ser estudado por especialistas, a elevada taxa de mortalidade por pneumonia, que em Portugal é o dobro da média europeia. Quando o relatório sobre as doenças respiratórias foi apresentado no início de Outubro, a responsável por este programa na DGS adiantou que os picos de internamento por pneumonia coincindiram com a actividade gripal, mas sublinhou que não se pode atribuir a elevada mortalidade exclusivamente à gripe..
Um estudo efectuado em 2004 pela Universidade de Dublin conclui que Portugal era um dos países da União Europeia onde se morria mais por falta de condições de isolamento e aquecimento nas casas. Segundo esta investigação, que foi realizada em 14 países europeus e analisou as potenciais causas da mortalidade no Inverno, Portugal tinha “a maior taxa (28%) de excesso de mortalidade”, seguido da Espanha e da Irlanda, ambos com 21%.
Especial atenção aos idosos isolados e aos sem-abrigo
Tendo em conta a continuação de tempo frio, com “acentuado arrefecimento nocturno”, a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e a Direcção-Geral da Saúde (DGS) pedem especial atenção aos “ grupos populacionais mais vulneráveis”, como crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas e os sem-abrigo. Recomendam sobretudo uma atenção redobrada “por parte das famílias e vizinhos e das redes sociais de proximidade” às situações de pessoas idosas e em condição de maior isolamento.
A ANPC e a DGS alertam também para o problema das intoxicações e dos incêndios em habitações, devido à má utilização de lareiras e braseiras ou avarias em circuitos eléctricos e para o piso escorregadio devido à formação de geada, em especial nas regiões do interior.
Recomendam que se evite a exposição prolongada ao frio e as mudanças bruscas de temperatura e o uso de várias camadas de roupa folgada e adaptada à temperatura ambiente, além da protecção das extremidades do corpo (usando luvas, gorro, meias quentes e cachecol).
fonte:Publico.pt