sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

É preciso diferenciar o Alzheimer de outras doenças, revela revista

Os sintomas são muito parecidos. Começa-se por esquecer as chaves do carro; depois, nomes de parentes e amigos passam a ser trocados; e, por fim, as fotos no porta-retrato já não dizem nada sobre um passado vivido, mas apagado da memória. Por isso, até mesmo os médicos costumam confundir os diferentes tipos de demência, nome genérico que designa o conjunto de doenças, degenerativas ou não, caracterizadas por transtornos cognitivos. A principal delas é o Alzheimer, mas há outras, menos faladas, que afectam a vida do paciente e da família do mesmo jeito.

Num artigo publicado na edição mais recente da revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia alerta para a necessidade de distinguir o Alzheimer de um outro tipo de demência, responsável por 8% dos casos totais da doença entre a população adulta. A chamada demência frontotemporal é um mal degenerativo, caracterizado pela perda da memória e também pelo desenvolvimento de um comportamento antissocial. Podem-se passar mais de 15 anos até o surgimento de outro sintoma, tempo que, bem aproveitado clinicamente, ajudaria o paciente a conviver melhor com os incômodos da doença.

Segundo os autores do estudo, convencionou-se que qualquer alteração progressiva e degenerativa da memória é doença de Alzheimer. Os próprios médicos deixariam de considerar outros distúrbios da demência, o que afecta o tratamento, pois, embora não exista ainda a cura para o problema, diferentes males requerem terapias diversas. “Coloquialmente, usamos a doença de Alzheimer para nos referir a pessoas dementes, mas há muitos pacientes com Alzheimer que ainda não são dementes”, argumenta Marilyn Albert, pesquisadora do Centro de Estudos de Alzheimer do Hospital Johns Hopkins, nos Estados Unidos. “De facto, um terço de todos os idosos possuem a patologia nos seus cérebros, mas não desenvolvem os sintomas. As pessoas não ficam dementes da noite para o dia; ao contrário, levam muitos anos para chegar lá. Por isso, um diagnóstico diferenciado é importante para tratar o paciente.”

Como entender
No estudo publicado na Neurology, os cientistas realizaram o exame de tomografia por emissão de pósitrons, mais conhecido como PET-CT. Uma pesquisa realizada no início deste ano mostrou que o método de diagnóstico por imagem é o mais acurado para identificar as placas de gordura que se acumulam entre os neurônios do paciente, uma característica da doença.

A equipa da Universidade da Califórnia, liderada por Gil D. Rabinovici, analisou os resultados dos exames de 107 pessoas diagnosticadas com Alzheimer ou demência frontotemporal, em seus primeiros estágios. Graças a um biomarcador que identifica os depósitos gordurosos no cérebro, os cientistas conseguiram apontar quais tinham Alzheimer e quais sofriam do outro tipo de demência. No caso da frontotemporal, não há formação de placas de gordura. “Embora não exista um método definitivo de diagnóstico do Alzheimer e dos outros distúrbios da demência, saber diferenciá-los vai ajudar os médicos a um melhor acompanhamento terapêutico”, acredita Rabinovici. “Ainda que uma medicação específica para cada tipo de demência não esteja disponível, tratar corretamente as doenças em seus primeiros estágios pode ajudar a controlar e retardar sintomas.”

No caso da demência frontotemporal, além do esquecimento, o paciente lida com transtornos de personalidade. “A pessoa começa a sofrer alterações na personalidade e momentos de perda da sanidade. É muito comum que se tornem desinibidas, passem a neglicenciar a higiene pessoal e desenvolvam manias”, explica Rodney A. Short, neurologista, em um artigo escrito para a Clínica Mayo, de Jacksonsville. Nos restaurantes, uma das pacientes do médico costumava ir de mesa em mesa para comer os pratos de desconhecidos, um exemplo de desinibição. Outra era capaz de passar o dia todo enchendo garrafas de água, às vezes 20 ao mesmo tempo, em um caso de mania. “Se o médico pode usar uma medicação que afeta o curso da demência, então deverá fazer isso nos primeiros estágios. Daí a necessidade de um diagnóstico correto”, afirma Gil D. Rabinovici.

Descoberta
O primeiro reconhecimento clínico da doença ocorreu em 1892, mas somente em 1987, quando 12,5% das autópsias de pacientes dementes nos Estados Unidos revelaram que eles não sofriam de Alzheimer, mas de degeneração nos lobos frontais ou laterais o cérebro, é que o problema foi reconhecido oficialmente. Em 1998, foi publicado um guia de diagnóstico desse tipo de demência.
Fonte: Correio Braziliense

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