domingo, 16 de outubro de 2011

Quebra Mitos: “Laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata!”

Todos conhecemos esta frase, que tem sido passada de geração em geração, condicionando de facto as horas de ingestão deste citrino. Com efeito, o que esta frase pretende afirmar é que, se decidirmos comer laranjas, então a parte da manhã será a altura em que ela será mais benéfica, diminuindo ao longo do dia o seu efeito positivo, sendo mesmo perigosa a partir do pôr-do-sol.

Uma pesquisa da literatura biomédica sobre este tema nada revelou, isto é, não há estudos científicos que tenham analisado tal questão, pelo que nos resta apresentar e discutir a origem deste “provérbio” e analisar sob o ponto de vista médico eventuais problemas com a ingestão de laranjas. A laranja possui, para além da conhecida vitamina C, muitos outros componentes (pectinas, açúcar, etc.), pelo que uma análise exaustiva dos seus efeitos nutricionais seria impossível de fazer neste texto. Uma coisa é certa: fisiologicamente falando, não faz qualquer sentido pretender que a altura do dia em que se come laranjas influencia o seu efeito sobre o organismo.

E que benefícios poderá haver em ingerir laranjas? Vários: para além duma dieta rica em frutas e vegetais ser recomendável como parte de um esquema de prevenção do risco cardiovascular (como parte da chamada dieta mediterrânica), por exemplo os doentes com nefrolitíase (“pedras nos rins”) podem ter um efeito positivo, devido ao facto dos citrinos diminuírem a formação das tais “pedras”.

E a vitamina C? Este componente das laranjas vem sempre a talho de foice quando se fala em dietas equilibradas e é a justificação maior para a ingestão de laranjas (e limões, já assim). Faz parte – juntamente com as vitaminas A e E – do grupo das chamadas vitaminas antioxidantes e têm-lhe sido atribuídas as mais variadas propriedades benéficas.

No entanto, sob o ponto de vista científico, a suplementação dietética de vitamina C é não só inútil, como potencialmente prejudicial: não existe evidência científica que ela proteja contra o risco de cancro e que seja útil para a prevenção da doença coronária ou de acidente vascular cerebral. E um outro mito que a vitamina C seria benéfica na vulgar constipação não é apoiada por nenhum facto científico de boa qualidade.

Prof. Doutor António Vaz Carneiro
Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência
Faculdade de Medicina de Lisboa

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