quarta-feira, 31 de março de 2010

Ambulâncias do INEM Sofrem 3 de Acidentes por Mês

No cruzamento, segundos antes de chegar ao Hospital do Barreiro, Fernando Figueira não conseguiu evitar o despiste da ambulância. "O sinal estava vermelho e parei: do lado esquerdo e do lado direito os dois camiões cederam a passagem e eu segui", relata o motorista dos Bombeiros Voluntários da Moita que transportava uma senhora para o hospital. Instantes depois, um veículo particular chocou contra a ambulância: "Não consigo explicar como aconteceu, acho que o camião tapou a visão ao condutor do carro e ele apanhou-me na roda de trás." Fernando Figueira e a senhora idosa, que minutos antes sofrera um ataque súbito em casa, saíram ilesos. Quem não teve a mesma sorte foi o socorrista, que sofreu graves lesões na cabeça. O acidente aconteceu em Janeiro deste ano.
"Quando temos uma criança de três anos sem conseguir respirar, quase a entrar em paragem cardíaca, é normal que sejamos menos profissionais e mais agressivos", diz Ricardo Rocha, o presidente do Sindicato de Ambulâncias de Emergência. A condução mais agressiva ocorre normalmente a caminho do local do acidente e sempre nos cruzamentos, porque o condutor comum não se sabe posicionar perante um veículo de emergência, adianta p sindicalista.
Em Portugual, cerca de 700 técnicos de viaturas de emergência do INEM conduzem as 87 ambulâncias particulares do Instituto e todos vivem na ansiedade de salvar vidas. Não são os únicos. Os Bombeiros Voluntários (BV) são responsáveis por 193 viaturas de emergência do INEM, graças a um protocolo que existe entre cada associação dos bombeiros e o Instituto. Mas os voluntários são os únicos condutores que não têm qualquer formação específica e, "muitas vezes, pagam do seu próprio bolso os cursos profissionais", conta ao i Ricardo Rocha. O INEM garante que, em média, regista três acidentes por mês. A protecção civil não disponibiliza os números relativos aos acidentes com os bombeiros voluntários. Mas o presidente da Associação de Técnicos de Emergência Médica Pré-Hospitalar, Nelson Baptista, avisa que 99% dos acidentes acontecem por negligência do condutor do veículo prioritário. "A má selecção de pessoas, a falta de avaliação psicotécnica e formações inapropriadas" são, para Nelson Baptista, as principais causas de sinistralidade em marcha de urgência assinalada.

Em Agosto de 2009, uma ambulância do INEM embateu contra um motociclista no centro do Porto, depois de passar um sinal vermelho, provocando a morte de Rui Severino de 23 anos. O técnico do INEM foi acusado de homicídio. Fonte oficial do Instituto recusa comentar o caso, mas o i teve conhecimento de que uma notícia publicada pelo "JN," sobre o alegado estado de alcoolemia do condutor, originou uma investigação policial.
Em Portugal não existe legislação que obrigue os condutores de veículos prioritários a terem formação específica. E os critérios para conduzir um veículo de emergência divergem. A experiência é um dos principais requisitos e, no caso dos BV, é mesmo o factor principal. É necessário também averbar à carta de condução a categoria de condutor de veículo prioritário. Para isso, é preciso uma certidão médica que comprove as habilidades físicas e psicotécnicas. Mas, de acordo com Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, é possível obter esse atestado por 70 ou 80 euros. "É uma disposição meramente burocrática e é absurdo cobrar a indivíduos que não recebem qualquer remuneração pelo trabalho que fazem um valor tão elevado". Tudo para um averbamento que diz,não trazer nenhum acréscimo de competência.
Em 2008, o INEM criou o Núcleo de Condução em Emergência (NUCE), um centro de formações internas com destaque para a "postura de emergência e segurança no trânsito." Helena Castro, coordenadora do NUCE, explica que os padrões de exigência aumentaram e ninguém passa no curso sem fazer uma "bateria de testes psicotécnicos, comportamentais, de inteligência, personalidade e reacção ao stress". A coordenadora assegura que fez uma proposta à direcção do INEM, há cerca de um ano, para que o NUCE passasse a abranger a Escola Nacional dos Bombeiros, dirigida também por Duarte Caldeira. Mas a proposta ainda não foi concretizada: "Como pode imaginar, estas formações são muito caras - precisamos sempre de quatro carros disponíveis e mais cinco formadores. Duarte Caldeira concorda.,E diz que não faz qualquer sentido os motoristas dos bombeiros não terem acesso a um quadro de formações como o NUCE, sendo que eles próprios conduzem as ambulâncias do INEM.
Fonte: ionline.pt

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