quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Prevenção Estrutural de Incêndios Florestais. Onde Está? Por Jorge Almeida

O país assiste todos os anos a uma verdadeira catástrofe ambiental e económica. Dezenas de milhares de hectares de mato e floresta são dizimados pelo fogo.
Será que estamos perante uma inevitabilidade condicionada pelo clima? Será que já aprendemos tudo acerca do combate ao fogo e conseguimos colocar no terreno as melhores soluções técnicas, tecnológicas e organizacionais ? Será que com o êxodo do mundo rural pelas populações e o abandono dos solos agrícolas, estaremos condenados a ver devoradas pelas chamas, todos os anos, parcelas importantes do nosso território?
Será que o êxito e inêxito neste combate tem mesmo a ver com o perfil de comando da Autoridade para a Proteção Civil ou com a perda de protagonismo da Liga dos Bombeiros ? Será que tudo se resume á quantidade e qualidade dos meios aéreos e à capacidade dos meios terrestres?
Os nossos responsáveis políticos, ainda não perceberam que o combate a este flagelo tem que passar essencialmente pelo realismo, pragmatismo e pela prevenção estrutural. Num país com este clima, com uma dominância de mato altamente combustível a ocupar espaços agrícolas, e com numa floresta maioritariamente composta por eucaliptos e pinheiros, os grandes incêndios não se conseguem combater eficazmente.
Um estudo realizado por uma equipa de especialistas da Universidade de Coimbra apresentou ao governo, em 2006, as previsões de área ardida para os próximos anos, se fossem usados os melhores meios de combate. Seria expectável uma média anual de 100.000 hectares, bem melhor que a média da década anterior que ultrapassara os 200.000 hectares.
Mas será que o país pode aceitar que, apesar do extraordinário esforço financeiro colocado neste dispositivo de combate, tanto prejuízo económico e ambiental o atinja todos os anos de forma inexorável?
Não. Os estudos estão feitos e mais que validados. Temos que investir predominantemente na prevenção estrutural. Ordenamento, gestão ativa da floresta, eliminação de material combustível, limpeza das florestas. Tudo isto é sabido e conhecido. Mas o que efetivamente está a ser feito?
Que meios, que recursos estão a ser mobilizados a partir dos serviços do estado na prevenção ? Que relação de custos prevenção estrutural / combate a incêndios está a ser aplicada?
Não haja a menor dúvida que nesta como noutras matérias estamos a “ pôr o carro à frente dos bois “. Estamos a deitar energias e dinheiro fora, e a prejudicar gravemente a economia, ao investir quase tudo no combate. Até parece que este modelo de investimento invertido interessa a alguém, a alguns negócios, a alguns interesses.
O governo anterior lançou um concurso para a instalação de 10 centrais termoelétricas ao longo do país. Centrais de queima de resíduos florestais para a produção de eletricidade. Limpeza das florestas, prevenção de incêndios, produção energética. Uma boa componente da prevenção estrutural.
Aconteceu que os concursos ficaram vazios. Nenhuma licença foi atribuída. O modelo de concurso refletiu bem a falta de realismo dos decisores políticos. Não perceberem que o acidentado dos solos e a falta de acessos a muitas zonas do território, encarecem muito o trabalho de limpeza. Só um preço por kg de biomassa assente numa taxa bonificada pode tornar exequível o modelo. Só um preço compensador por kg de resíduos pode efetivamente criar uma nova atividade comercial tão bem-vinda para as zonas do interior.
O atual governo já manifestou a vontade de voltar a lançar os concursos. Oxalá venhamos a ter condições concursais para os nossos empresários agarrarem este projeto, de molde a virmos a ter uma atividade de recolha de resíduos rentável, e uma produção energética rentável também. Esperemos ainda, caso isto se concretize, não venhamos a ter uma discussão contaminada por pseudo-defensores da causa pública que contestarão as ajudas a esta produção energética conforma o fizeram com as eólicas.
Fonte: Notícias de Vila Real

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