segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Falta Cultura Cívica e Bom Senso na Prevenção dos Fogos

António Machado, Comandante Operacional Distrital de Aveiro de Operações de Socorro desde 1986 realça valor dos bombeiros como "braço armado da Proteção Civil" e lembra responsabilidade coletiva na prevenção.
 
Jornal O Ponto
Quais são os meios de que o distrito dispõe para o socorro, nesta época tida como a mais propensa a incêndios?
Existem várias fases [o dispositivo especial de combate a incêndios florestais possui cinco fases: alfa, bravo, charlie, delta e echo]. Começamos a preparar-nos [para os períodos mais críticos] a 15 de maio e vamos até 30 setembro. Os meios humanos vão sendo adaptados. O grosso da coluna é na fase Charlie. Temos até 340 elementos, o que representa um aumento de cerca de 40 homens, comparativamente com o ano passado. Os meios aéreos são os mesmos do ano passado: um em Vale de Cambra e um em Águeda. Têm sido suficientes.
Ainda faz sentido a delimitação temporal destas fases, tendo em conta as alterações climáticas?
No ano passado, a primeira quinzena de outubro foi a pior época no distrito. Estamos a discutir esses assuntos. Há quem diga que só há uma fase, de 1 de janeiro a 31 de dezembro.Mas é impossível ter tantos meios em alerta o ano inteiro. Pois, isso custa muito dinheiro. Não podemos ter “sol na eira e chuva no nabal”. É complicado. Se calhar teremos que aligeirar umas fases e carregar noutras. Vou-lhe dar um exemplo. Um dos atores que influencia os fogos é o calor. As previsões de tempo muitas vezes não se cumprem. Depende muito da meteorologia e ela só nos dá previsões a três dias.
 
Quando são causas naturais é difícil prever, mas não podemos esquecer que existem causas externas, que vão desde atos negligentes de atirar foguetes ou cigarros para a mata até atos mal-intencionados de atear incêndios.
As estatísticas dizem que a grande percentagem de fogo que existe é de carácter negligente: o cigarro, o piquenique, a queimada… Também há muito proprietário absentista e o cadastro da floresta não está feito…
Em termos financeiros, como se refletem as políticas de contenção orçamental do Estado no socorro?
Felizmente não tivemos esse tipo de situações. Mantivemos os mesmos meios e até aumentamos 40 homens no terreno. Não temos problemas.
Não houve redução de verbas?
Não.

Sinal de que a segurança já é uma prioridade?
É também um hábito do distrito. Nesse aspeto funcionamos bem e, quando assim é, não se mexe.
 
 
Há pouco falou do cadastro da floresta, que ainda não está feito. Que outros problemas têm que ser resolvidos para melhor proteger dos incêndios?
O ordenamento do território, o cumprimento da legislação… A lei determina que se eu tenho uma casa no meio da floresta, tenho que limpar à volta 50 metros, mas ninguém limpa…
Falta uma cultura de prevenção?
Falta cultura cívica, de cidadania, de respeito pelos outros. A prevenção está incluída nisto.
Falamos até agora de incêndios, mas a área da Proteção Civil é muito mais vasta.
Os fogos florestais representam, no cômputo geral da intervenção da Proteção Civil, entre 2,5 a 3%. O resto são fogos urbanos, industriais, acidentes rodoviários, várias situações.

Quais são e como se articulam os vários intervenientes da Proteção Civil?
Bombeiros, GNR, Instituto de Emergência Médica, Capitania do Porto. Articulam-se através de uma coordenação única. Funciona bem.
A extinção dos Governos Civis tornou mais difícil a articulação de meios?
Não sei.

Que posição ocupam os bombeiros?
Costumamos dizer que os bombeiros são o braço armado da Proteção Civil. Representam uma grande fatia das intervenções. Posso-lhe dar um exemplo. No ano passado, no distrito, o CDOS [Centro Distrital de Operações de Socorro] de Aveiro teve 89 mil intervenções, o que é uma brutalidade.
Na maioria das intervenções, os bombeiros são os primeiros a actuar?
Sim. As corporações de bombeiros do distrito são, sobretudo, compostas por voluntários.
Algumas têm assalariados, mas são todas corporações de bombeiros voluntários, sim.
Faz sentido ter o socorro das populações dependente do voluntariado?
O facto das pessoas serem voluntárias não quer dizer que sejam amadoras…Nem que sejam irresponsáveis. Não é a isso que me refiro.
Têm formação, um aspeto que está a ser acelerado. Não ficam nada a dever aos profissionais. Nesta altura que atravessamos, os custos/benefícios dos bombeiros profissionais relativamente aos voluntários é muito complicado para o país.
Fonte: noticiasdeaveiro

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