terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher - As Bombeiras do C.B. de Bragança


Dia Internacional da Mulher, celebra-se hoje a 8 de Março. Este dia tem como origem as manifestações das mulheres russas por "Pão e Paz" – por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada do seu país na Primeira Guerra Mundial. Essas manifestações marcaram o início da Revolução de 1917.

Entretanto a ideia de celebrar um dia da mulher já havia surgido desde os primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto.

Contando a Associação humanitária de bombeiros voluntário de Bragnça com 32 funcionários, 4 destes elementos são do sexo feminino e mais um elemento do Comando também do sexo feminino. O cbbraganca lançou-lhe a oportunidade de se darem a conhecer, como Bombeiras e como mulheres, dizendo-nos o que fazem e o que são inseridas num meio maioritariamente masculino.

Comecemos então com uma das bombeiras mais antigas no nosso corpo de Bombeiros.

A Dna Virgínia Pio, mulher de 50 anos, numa posição respeitosa, de bons costumes, antigos principios, ocupa o lugar de operadora de central. Mulher de família constituída, não nega ás origens e observou o desafio da vida numa época em que a emancipação das mulheres se desenvolveu em varias vertentes.


Cbbraganca: É Bombeira há quanto tempo?
Virginia: 25 anos desde 1986

C: É funcionária da associação há quanto tempo?
V: 10 anos, mas fui funcionaria de dos Bombeiros de Izeda á 15 anos.

C: Ingressou primeiro em que corporação?
V: Ingressei primeiro nos Bombeiros de Izeda e depois apareceu oportunidade de emprego. Comecei a trabalhar como remunerada e a fazer voluntariado também, e passados 15 anos surgiu a oportunidade de mudar para Bragança e mudei, devido á família.

C: E como se adaptou á vinda para Bragança?
V: Tive uns colegas espectaculares, que me apoiaram muito, apesar de ser das primeiras mulheres a vir para aqui, apoiaram me muito, ajudaram me muito durante o meu serviço e gostei muito de me mudar para os bombeiros de Bragança.

C: Como foi recebida pela maior parte dos funcionários homens?
V: Da minha parte notei que fui bem recebida e aceite por todos, sempre me ensinaram naquilo que não sabia ou nalguma dificuldade que tinha, correu sempre bem. Fui bem recebida por todos.

C: Há uns anos atrás, quando se deu a reestruturação da camarata feminina, teve a honra de ser atribuído o seu nome a essa, tendo partilhado desse honra com a nossa Adjunta, o que achou desse reconhecimento?
V: Agradeci muito, não estava a espera. Não estava a espera que fizessem esse reconhecimento, mas fiquei muito agradecida. Respeito-os os muito nessa. Podia haver continuação deste tipo, podendo dar oportunidades a outras bombeiras que passem por aqui.


C: Ser mulher bombeira é uma experiência com certeza diferente, qual é a principal razão da sua escolha?
V: Quando ingressei nos Bombeiros em Izeda, que era onde residia, eu estava em casa e não havia muito trabalho, tinha muito tempo para dar, entrei , não sabíamos o que era, não sabíamos o que era os Bombeiros. Era-mos 4 mulheres na altura, entramos as 4 , e gostamos muito da experiência, que foi muito boa. Na altura Izeda era uma aldeia, agora que já é vila tudo se torna diferente, mas acho que foi uma saída para mim, conhecendo novas coisas, conhecendo novos colegas, é uma família que uma pessoa arranja.

C: Quanto ao trabalho, como se adapta ao trabalho interno e externo?
V: Hoje já tenho mais dificuldade nos trabalhos externos, mas quando ingressei nos bombeiros gostava mais do trabalho de andar no terreno do que estar dentro do quartel, é diferente.

C: Um conselho que queira dar ás futuras bombeiras?
V: Todas aquelas raparigas que tenham vontade de dar alguma coisa, algum espírito de voluntariado, de fazer alguma coisa por alguém, aconselho vivamente a entrarem. Neste 25 anos só tenho coisas boas a dizer.

C: Quais foram os principais marcos que na sua carreira atingiu?
V: Já tenho 4 medalhas, ate aos 20 anos, cheguei a Bombeira de 1ª Classe e não quis fazer mais promoções, acho que me chega.

Subindo as escadas ao primeiro andar do quartel, entramos pela secretaria da direcção e fomos á conversa com a Dna Baetriz de 44 anos. È esta mulher que têm á sua responsabilidade a facturação da Associação bem como o processamento dos ordenados. Já trabalhou com as várias direcções nestes últimos anos, caracterizando-se pelo seu perfil directo e pluralista, têm o dom da opinião, gosta de tudo direitinho.

Cbbraganca: Há Quanto tempo trabalha nos Bombeiros como administrativa
Beatriz Garcia: 12anos

C :Como foi aceitar trabalha numa casa onde maioritariamente dominavam os homens?
B: Eu nunca pensei nem sonhei trabalhar aqui, a minha formação não era propriamente para esta área, mas também em termos pessoais sempre gostei de ajudar o próximo e também esta casa é bom neste sentido. E sinto-me melhor a trabalhar no meio de homens do que apenas mulheres.

C:Tem alguma história engraçada ou marcante que possa contar?
B: Aqui há varias histórias. Na ajuda ao próximo, temos uma situação, onde eu e uma colega minha, confrontadas com uma pessoa que não tinha possibilidade de pagar transporte fomos nos que pagamos o transporte durante um ano a essa pessoa, ate porque esta casa chama-se associação Humanitária. Noutros sentidos há momentos hilariantes, outros que não se vão esquecer, principalmente no convívio entre nós, como por exemplo nas nossas festas e também das guerrilhas internas laborais, mas tudo é bom, tudo faz parte, o positivo e o negativo.

C: Nuca sentiu vontade de integrar o corpo activo?
B: Sempre. Desde o primeiro dia que vim para este quartel, até porque eu fui escuteira ate aos vinte anos, fui chefe de equipa, passei a chefe de escutismo, e foi ai que quis desistir, portanto o escutismo e os bombeiros complementam-se. E ser bombeira seria uma honra, mas nunca pude ser por que inicialmente quando vim para aqui o comando não aceitava mulheres no corpo activo como bombeiros, depois com a mudança de Comando também não puder entrar, ate que pronto … agora passou a idade.

C: Antigamente dividia o seu trabalho com um colega, agora com uma colega como se desenvolve a relação de trabalho, quais as principais diferenças?
B: Neste caso, eu gosto de trabalhar no meio de homens, mas como aqui o trabalho é tão intenso e o meu trabalho esta intimamente ligado ao dela, e o dela ao meu, ela é mais organizada que qualquer homens, digamos que a mulher consegue ser um bocadinho mais organizada nesse sentido trabalhar com uma mulher é mais fácil, ate porque, quando não há consenso é mais fácil discutir ideias entre nós.


Numa secretaria ao lado encontramos outra mulher, a Dna Carlota. Mulher casada, reservada e trabalhadora. Têm a seu cargo restante trabalho de secretaria. Veio de outra empresa de Bragança onde desempenhava praticamente as mesmas funções. Mulher, mãe, funcionária administrativa e voluntária. Nos seus bons modos, frequentou uma escola de Aspirantes em 2008 e hoje guarda um casaco da farda num armário ao cantinho da secretaria, para o caso de uma eventualidade imediata…

Cbbraganca: Há quanto tempo trabalha com funcionária nesta corporação?
Esprança Pires: Há 5 anos.

C: E há quantos anos decidiu ser bombeira?
E: Há 3 anos

C: Porque é que só passados 2 anos de trabalhar nos Bombeiros é que decidiu ingressar no corpo activo?
E: A vontade foi no inicio, mas não foi permitido. Na altura o presidente da direcção não me deixou. Agora com este presidente já pude.

C: Quais os motivos que a levaram a ingressar no corpo activo?
E: Principalmente a vontade de ajudar os outros, ser útil á sociedade, fazer algo por alguém.

C: Como relaciona o seu dia-a-dia com o trabalho administrativo e com o voluntariado?
E: Sabendo gerir o tempo com a família e com o trabalho.

C: E já ocorreu a necessidade a meio do horário de expediente ter de abandonar a secretaria para fazer algum serviço operacional?
E: Sim, já aconteceu, quando costuma haver vários serviços INEM em simultâneo. Por exemplo, já tive de ir fazer um serviço de INEM a uma escola com Sr. Refoios.(motorista).

C: Qual o serviço operacional que mais lhe agrada?
E: Prefiro INEM que incêndios, ate porque nos incêndios florestais não tive uma experiência muito positiva.

C: Sendo mulher como se sente integrada no serviço e como vê a sua aceitação pela parte operacional?
E: Sou a mesma pessoa, sou respeitada da mesma maneira, os colegas ao fim ao cabo são os mesmos, por isso não tenho razão de queixa.

C: Transmita-nos um conselho ás futuras bombeiras?
E: Se gostam de ajudar o próximo que venham!


Já para Sónia Afonso, de 33 anos, o ingresso não foi tão facilitado. A nossa "Kinhas", inscreveu-se como Bombeira na altura em que os Bombeiros de Bragança levantaram a proibição de inscrição de elementos femininos com voluntários. De uma escola em que o companheirismo era mais que notável, rapidamente foi integrada num grupo sem igual, e destacando-se de alguns homens ocupando lugares cimeiros de classificação hierarquica. A sua boa disposição característica é notável em conjunto com a responsabilidade de uma operadora de central, ocupação que hoje executa nos Bombeiros de Bragança.


Cbbraganca: Há quanto tempo és bombeira?
Sónia Afonso: Desde 2002, á 9 anos.

C: E há quanto tempo és funcionaria da Associação?
S: Há 5 anos.

C: O que te trouxe para os Bombeiros como voluntaria?
S: Como voluntaria foi a minha prima que me convenceu a vir para cá. Tinham lhe falado para vir para os bombeiros e para ela não vir sozinha vim eu com ela. Só que depois ela foi embora e eu fiquei.

C: E qual o sentimento que te alimenta o voluntariado?
S: É gostar!

C: Quais são as motivações que te mantêm a contuniudade como bombeira?
S: Ajudar o Proximo.

C: Quais as funções que mais te agradam?
S: Fazer INEM´s, principalmente, e incêndios florestais.

C: Com vês a relação com os teus colegas do sexo masculino?
S: Não tenho razão de queixa, sempre me ajudaram em tudo, sempre houve companheirismo e em relação a isso não há razão de queixa.

C: Tens alguma historia engraçada ou motivadora?
S: O dia-a-dia. É o principal ponto motivador para gostar disto. Gosto disto.

C: Achas que estão reunidas condições para fixação de bombeiras?
S: Sim, penso que sim.

C: Já alguma vez encontraste alguma dificuldade ou foste descriminada por seres mulher?
S: Não nunca. Sempre me via a par dos Homens.

C: O espírito entre o corpo feminino é algo motivador ou há conflito de ideias?
S: É motivador. Diferenças há em todo o lado , mas há um bom ambiente de trabalho

C: Um conselho para mulheres que queiram ser bombeiras?
S: Que venham, mas que continuem só mesmo se gostarem.


Para terminar chegamos á conversa com uma protagonista de uma das maiores alterações ao nível social deste Corpo de Bombeiros, reconhecida por ser uma maço histórico na vida desta Associação. A Adjunta Filomena Veiga foi a primeira mulher da história deste quartel a pertencer aos quadros de Comando e uma das primeiras no quadro activo da corporação. Em sua honra foi atribuído o seu nome á nova camarata feminina inaugurada em 2007,partilhando essa honra com outra bombeira. Na sua segunda nomeação consecutiva como Adjunta de Comando, partilha este cargo com o de Chefe de Sala do CDOS 04. Uma mulher com um espírito de liderança e feitio bem vincado. Prima pela perfeição e denota orgulho naquilo que faz, uma vida dedicada em prol dos Bombeiros e do Voluntariado, tranforma-se em Super-Mulher quando ainda compartilha o seu tempo com a família, esta que sempre nos diz trazer no coração…

Cbbraganca: Há quanto tempo ingressou nos bombeiros e em que corporação?
Filomena Veiga: Ingressei para os Bombeiros à 23 anos no CBV de Izeda.

C: Como foi a sua transição para os Bombeiros de Bragança e em que ano?
F: Quando equacionei a hipótese de me transferir para o CBV de Bragança, pensei que a transição não iria ser fácil porque neste CB não existiam mulheres e não sabia a reacção que os Bombeiros iriam ter. Quando eu me transferi não fui sozinha também a Bombeira de 1.ª Virgínia Pio foi transferida de Izeda para Bragança na mesma altura esta para assumir funções de Operadora de Central. A Transição foi por volta de 2001/2002.


C: Como foi recebida pelos Bombeiros, visto que apenas havia homens neste meio?
F: Inicialmente com algumas reservas, como é compreensível, mulher e logo para um assumir um cargo de Comando, tive a ajuda dos Bombeiros mais graduados que me aceitaram sem qualquer pudor e ajudaram-me a integrar-me.

C: O que achava da proibição do ingresso de mulheres nos Bombeiros?
F: Ainda existe um tabu muito grande em torno deste assunto, há CB's que ainda é proibido o ingresso de Elementos Femininos nos seus Quadros. Relativamente á tua questão é sobretudo um desafio para acabar com as discriminações invisiveis, que ainda dificultam o acesso a lugares onde é mais comum haver homens. Da nossa parte exige uma dedicação muito grande, dado sermos mães, esposas e temos um trabalho, só é possível graças à compreensão dos maridos. Aproveitando para deixar aqui expresso o meu reconhecimento público.

C: Quais são os principais benefícios que as mulheres trazem para uma corporação de Bombeiros?
F: Podemos dizer que os benefícios são acima de tudo no equilibrar dos quadros dentro de próprio quartel, as mulheres podem desempenhar funções mais femininas, apesar dos nossos Elementos femininos estarem aptos para desempenhar qualquer função.

C: A sua vinda para Bragança foi um marco histórico na vida desta corporação, assim como o cargo ocupado até ao momento. Ser adjunta de Comando será sobretudo uma honra e desafio. O que lhe trouxe este desafio?
F: Inicialmente encarei como desafio mas agora já não o é, sinto estar perfeitamente integrada graças a todos quantos pertencem aos quadros do CB de Bragança. Mas sim com tu próprio frisaste uma grande Honra, sobretudo porque tenho a sorte de ter Senhores a trabalhar comigo no Quadro de Comando e assim a minha tarefa estar bem facilitada. Penso que cada vez mais mulheres ocupam cargos de chefia em todos os serviços , definitivamente o conceito de chefia deixou de ser sinónimo de masculino.

C: Não obstante o facto de ser chefe de sala do CDOS 04, é um acréscimo de responsabilidade, como aprendeu ou qual a força que têm para gerir toda esta responsabilidade?
F:Aprendi ao longo destes anos que basta desempenhar as tarefas com gosto e termos as pessoas certas ao nosso lado para nos ensinarem, orientarem e dar precisamente essa força de que tu falas. Confesso que já houve momentos em que quase a perdi mas tive sempre alguém experiente e atento para não me deixar desistir.

C: Tem a cargo todo o corpo feminino desta corporação, como é lidar com as Bombeiras desta corporação? quais os problemas que surgiram para a criação de condições para acolher a parte feminina?
F: Os problemas só começaram a surgir quando houve um "BOOM" de inscrições de Elementos femininos, as instalações do CB não estarem preparadas para receber as cerca de 40 mulheres hoje inscritas neste CB. De imediato os responsáveis ficaram sensibilizados para esta questão e resolveram a lacuna, fazendo uma camarata feminina com condições excelentes.

C: Partilha também com a Dna. Virgínia o nome da camarata feminina, desde a sua reestruturação? O que foi este reconhecimento para si?
F: Acima de tudo uma enorme Honra é um reconhecimento que eu não guardo só para mim e o partilho com todas as muheres que integram o Corpo Activo desse CB.

C: Um conselho que possa dar a todas as futuras Bombeiras?
F: Não temam, vivam a vida do Corpo de Bombeiros ao máximo, todas as missões que vos forem confiadas vocês ande ser capazes de as executar, é sempre sem medo com a devida precaução claramente, mas nunca tenham medo há-de haver sempre alguém mais experiente ao vosso lado. Façam os vossos Filhos orgulharem-se de vós, se tem de ser alguém... porque não nós?

O cbbraganca agradece a todas as Bombeiras que potenciaram este artigo, bem como a todas aquelas que tento têm feito por esta casa. A elas o nosso Obrigado!

3 comentários:

João Horta - FIRESHELTER52 disse...

Muitos parabéns a todos.
A entrevista ao pessoal feminino inserido no contexto do dia internacional da mulher está excelente.
Abraços

FIRESHELTER52

Patrícia Antão disse...

Parabéns a todas estas mulheres de armas que todos nós no CBBragança admiramos tanto. Parabéns aos homens que valorizam estas mulheres...
Muito Bom o artigo!

Pedro Bastos disse...

Parabéns oa colegas Transmontanos aqui de Portalegre.

Excelente reportagem.