O país assiste todos os anos a
uma verdadeira catástrofe ambiental e económica. Dezenas de milhares de hectares
de mato e floresta são dizimados pelo fogo.
Será que estamos perante uma
inevitabilidade condicionada pelo clima? Será que já aprendemos tudo acerca do
combate ao fogo e conseguimos colocar no terreno as melhores soluções técnicas,
tecnológicas e organizacionais ? Será que com o êxodo do mundo rural pelas
populações e o abandono dos solos agrícolas, estaremos condenados a ver
devoradas pelas chamas, todos os anos, parcelas importantes do nosso
território?
Será que o êxito e inêxito
neste combate tem mesmo a ver com o perfil de comando da Autoridade para a
Proteção Civil ou com a perda de protagonismo da Liga dos Bombeiros ? Será que
tudo se resume á quantidade e qualidade dos meios aéreos e à capacidade dos
meios terrestres?
Os nossos responsáveis
políticos, ainda não perceberam que o combate a este flagelo tem que passar
essencialmente pelo realismo, pragmatismo e pela prevenção estrutural. Num país
com este clima, com uma dominância de mato altamente combustível a ocupar
espaços agrícolas, e com numa floresta maioritariamente composta por eucaliptos
e pinheiros, os grandes incêndios não se conseguem combater eficazmente.
Um estudo realizado por uma
equipa de especialistas da Universidade de Coimbra apresentou ao governo, em
2006, as previsões de área ardida para os próximos anos, se fossem usados os
melhores meios de combate. Seria expectável uma média anual de 100.000 hectares,
bem melhor que a média da década anterior que ultrapassara os 200.000 hectares.
Mas será que o país pode
aceitar que, apesar do extraordinário esforço financeiro colocado neste
dispositivo de combate, tanto prejuízo económico e ambiental o atinja todos os
anos de forma inexorável?
Não. Os estudos estão feitos e
mais que validados. Temos que investir predominantemente na prevenção
estrutural. Ordenamento, gestão ativa da floresta, eliminação de material
combustível, limpeza das florestas. Tudo isto é sabido e conhecido. Mas o que
efetivamente está a ser feito?
Que meios, que recursos estão
a ser mobilizados a partir dos serviços do estado na prevenção ? Que relação de
custos prevenção estrutural / combate a incêndios está a ser
aplicada?
Não haja a menor dúvida que
nesta como noutras matérias estamos a “ pôr o carro à frente dos bois “. Estamos
a deitar energias e dinheiro fora, e a prejudicar gravemente a economia, ao
investir quase tudo no combate. Até parece que este modelo de investimento
invertido interessa a alguém, a alguns negócios, a alguns
interesses.
O governo anterior lançou um
concurso para a instalação de 10 centrais termoelétricas ao longo do país.
Centrais de queima de resíduos florestais para a produção de eletricidade.
Limpeza das florestas, prevenção de incêndios, produção energética. Uma boa
componente da prevenção estrutural.
Aconteceu que os concursos
ficaram vazios. Nenhuma licença foi atribuída. O modelo de concurso refletiu bem
a falta de realismo dos decisores políticos. Não perceberem que o acidentado dos
solos e a falta de acessos a muitas zonas do território, encarecem muito o
trabalho de limpeza. Só um preço por kg de biomassa assente numa taxa bonificada
pode tornar exequível o modelo. Só um preço compensador por kg de resíduos pode
efetivamente criar uma nova atividade comercial tão bem-vinda para as zonas do
interior.
O atual governo já manifestou
a vontade de voltar a lançar os concursos. Oxalá venhamos a ter condições
concursais para os nossos empresários agarrarem este projeto, de molde a virmos
a ter uma atividade de recolha de resíduos rentável, e uma produção energética
rentável também. Esperemos ainda, caso isto se concretize, não venhamos a ter
uma discussão contaminada por pseudo-defensores da causa pública que contestarão
as ajudas a esta produção energética conforma o fizeram com as
eólicas.
Fonte:
Notícias de Vila Real
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