Uma equipa de investigadores de Coimbra descobriu que a
principal causa da doença de Parkinson será a disfunção da mitocôndria,
responsável pela produção de energia nas células, "contrariando algumas das
últimas teses científicas" sobre a patologia.
A Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, lentamente
progressiva e que se manifesta através de rigidez muscular, tremores, diminuição
da mobilidade e instabilidade postural.
Afetará "mais de quatro milhões de pessoas em todo o mundo" e "em mais de 90%
dos casos" é de origem desconhecida, disse à Lusa Sandra Morais Cardoso, líder
do grupo de investigadores, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da
Universidade de Coimbra (UC).
O estudo, publicado na revista "Human Molecular Genetics", vem demonstrar que
" a deficiência no tráfego intracelular (autoestradas celulares) é provocada
pela disfunção das mitocôndrias dos doentes", que são responsáveis pela produção
de energia nas células, refere uma nota divulgada pela UC.
Sandra Morais Cardoso explica que "a disfunção mitocondrial é o evento que
está na base da deficiente autofagia, o mecanismo através do qual ocorre a
degradação de organelas disfuncionais e de proteínas danificadas", que permite
eliminar o lixo biológico que se acumula ao longo do envelhecimento e que se não
for expulso leva à morte das células.
A investigação, que tem como primeira autora a aluna de doutoramento Daniela
Moniz Arduíno, vem também demonstrar que a ativação de uma autofagia deficiente,
por si só, "é pior para o envelhecimento das células", prejudicando ainda mais o
paciente.
"Até agora, julgava-se que a ativação da autofagia era boa para as células,
mas verifica-se que isso não basta nos doentes de Parkinson, há também que
promover as autoestradas celulares", sustenta Sandra Morais Cardoso.
A descoberta, "infelizmente, não se traduz numa cura da doença a curto
prazo", mas "fornece novas pistas importantes para o desenvolvimento de futuros
fármacos que previnam a interrupção do tráfego e, deste modo, assegurem o normal
transporte intracelular", no entender da investigadora.
O desafio agora, disse, é perceber "como a função da mitocôndria leva à
destabilização das autoestradas celulares".
A investigação foi realizada com base em células de doentes com Parkinson e
desenvolvida ao longo dos últimos quatro anos, com financiamento da Fundação
para a Ciência e Tecnologia.
Fonte:JN
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