A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP)
concluiu ter havido "falhas graves na estratégia e coordenação" no incêndio que
lavrou, em julho, no Algarve, considerando que se verificou "um total
descontrolo" nas primeiras 34 horas do fogo.
Num relatório sobre o incêndio que deflagrou de 18 a 22 de julho, na Serra do
Caldeirão, entre Tavira e São Brás de Alportel, a LBP conclui ter havido falhas
graves na estratégia e coordenação no comando das operações, "pelo que o
dispositivo de combate andou sempre atrás do incêndio em vez de se antecipar à
sua evolução".
O documento realça também que "não foi feita uma correta identificação das
necessidades e o atempado pedido de reforços", adiantando que o comando esteve
apenas entregue aos bombeiros durante três horas, num período em que o incêndio
se desenvolvia ainda em três frentes".
"Durante as mais de 30 horas seguintes, foi da responsabilidade do comandante
distrital de socorro de Faro", refere.
"Verificou-se o total descontrolo nas primeiras 34 horas do incêndio, tendo
sido injetados meios no teatro de operações sem estas corresponderem a um plano
estratégico de ação", lê-se no documento, que realça a falta de capacidade de
antever a progressão do fogo e de se tomarem "as decisões estratégias adequadas
para o seu domínio em tempo útil".
O relatório, cujo relator foi Duarte Caldeira, ex-presidente da LBP, assinala
igualmente que "o método de combate indireto e a mobilização de meios
necessários para o mesmo, só se verificou de forma estruturada cerca de 48 horas
após o incêndio ter-se iniciado".
A LBP concluiu igualmente que "não houve uma efetiva articulação entre o
nível nacional e distrital da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e as
duas câmaras municipais afetadas".
"Constatou-se que há elementos de comando, nomeadamente da estrutura da ANPC,
que não dominam a aplicação prática do sistema de gestão de operações facto que
resultou na fragilização da importante missão do posto de comando", adianta.
A LBP refere também que o "elevado número de meios aéreos envolvidos motivou,
em muitos momentos, a falência da função de comando", além de se terem
verificado "acentuados desníveis na capacidade operacional, composição e comando
de alguns grupos de reforço de incêndios florestais", o que se refletiu nos
resultados alcançados no teatro de operações.
Duarte Caldeira refere que se constatou, "mais uma vez, a grande dificuldade
de mobilização de recursos humanos nos corpos de bombeiros" da região do
Algarve, nesta altura do ano, que se resumem aos elementos inseridos no
dispositivo especial de combate a incêndios florestais.
A LBP destaca que este incêndio envolveu um conjunto de meios sem paralelo em
qualquer outro fogo ocorrido desde 2005, mas considera que não foram acionados
os planos municipais de emergência de Tavira e de São Brás de
Alportel.
O relatório, que faz uma evolução da operação de combate ao incêndio,
recomenda que se invista na formação especializada de elementos da estrutura
operacional da ANPC e dos bombeiros, no domínio do sistema de controlo de
comando e de controlo, e se reforcem equipas de comando dos bombeiros, para a
gestão de grandes incêndios.
A LBP propõe ainda que seja reavaliada a formação ministrada na Escola
Nacional de Bombeiros, revisto o modelo de constituição e deslocação dos grupos
de reforço de incêndios florestais, e clarificada a decisão política de
emergência face à extinção dos governadores civis.
A LBP refere que o relatório não é um inquérito ao incêndio do Algarve,
constituindo um documento de análise, que visou identificar vulnerabilidades
"que permanecem por resolver, e que justificam as graves consequências que dele
decorrem", além de sublinhar que as conclusões não apontam para
responsabilidades individuais.
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