António Machado, Comandante
Operacional Distrital de Aveiro de Operações de Socorro desde 1986 realça valor
dos bombeiros como "braço armado da Proteção Civil" e lembra responsabilidade
coletiva na prevenção.
Jornal O Ponto
Quais são os meios de que o
distrito dispõe para o socorro, nesta época tida como a mais propensa a
incêndios?
Existem várias fases [o
dispositivo especial de combate a incêndios florestais possui cinco fases: alfa,
bravo, charlie, delta e echo]. Começamos a preparar-nos [para os períodos mais
críticos] a 15 de maio e vamos até 30 setembro. Os meios humanos vão sendo
adaptados. O grosso da coluna é na fase Charlie. Temos até 340 elementos, o que
representa um aumento de cerca de 40 homens, comparativamente com o ano passado.
Os meios aéreos são os mesmos do ano passado: um em Vale de Cambra e um em
Águeda. Têm sido suficientes.
Ainda faz sentido a
delimitação temporal destas fases, tendo em conta as alterações
climáticas?
No ano passado, a primeira
quinzena de outubro foi a pior época no distrito. Estamos a discutir esses
assuntos. Há quem diga que só há uma fase, de 1 de janeiro a 31 de
dezembro.Mas é impossível ter tantos
meios em alerta o ano inteiro. Pois, isso custa muito
dinheiro. Não podemos ter “sol na eira e chuva no nabal”. É complicado. Se
calhar teremos que aligeirar umas fases e carregar noutras. Vou-lhe dar um
exemplo. Um dos atores que influencia os fogos é o calor. As previsões de tempo
muitas vezes não se cumprem. Depende muito da meteorologia e ela só nos dá
previsões a três dias.
Quando são causas naturais é
difícil prever, mas não podemos esquecer que existem causas externas, que vão
desde atos negligentes de atirar foguetes ou cigarros para a mata até atos
mal-intencionados de atear incêndios.
As estatísticas dizem que a
grande percentagem de fogo que existe é de carácter negligente: o cigarro, o
piquenique, a queimada… Também há muito proprietário absentista e o cadastro da
floresta não está feito…
Em termos financeiros, como se
refletem as políticas de contenção orçamental do Estado no socorro?
Felizmente não tivemos esse
tipo de situações. Mantivemos os mesmos meios e até aumentamos 40 homens no
terreno. Não temos problemas.
Não houve redução de
verbas?
Não.
Sinal de que a segurança já é
uma prioridade?
É também um hábito do
distrito. Nesse aspeto funcionamos bem e, quando assim é, não se
mexe.
Há pouco falou do cadastro da
floresta, que ainda não está feito. Que outros problemas têm que ser resolvidos
para melhor proteger dos incêndios?
O ordenamento do território, o
cumprimento da legislação… A lei determina que se eu tenho uma casa no meio da
floresta, tenho que limpar à volta 50 metros, mas ninguém
limpa…
Falta uma cultura de
prevenção?
Falta cultura cívica, de
cidadania, de respeito pelos outros. A prevenção está incluída
nisto.
Falamos até agora de
incêndios, mas a área da Proteção Civil é muito mais vasta.
Os fogos florestais
representam, no cômputo geral da intervenção da Proteção Civil, entre 2,5 a 3%.
O resto são fogos urbanos, industriais, acidentes rodoviários, várias
situações.
Quais são e como se articulam
os vários intervenientes da Proteção Civil?
Bombeiros, GNR, Instituto de
Emergência Médica, Capitania do Porto. Articulam-se através de uma coordenação
única. Funciona bem.
A extinção dos Governos Civis
tornou mais difícil a articulação de meios?
Não sei.
Que posição ocupam os
bombeiros?
Costumamos dizer que os
bombeiros são o braço armado da Proteção Civil. Representam uma grande fatia das
intervenções. Posso-lhe dar um exemplo. No ano passado, no distrito, o CDOS
[Centro Distrital de Operações de Socorro] de Aveiro teve 89 mil intervenções, o
que é uma brutalidade.
Na maioria das intervenções,
os bombeiros são os primeiros a actuar?
Sim. As corporações de bombeiros do
distrito são, sobretudo, compostas por voluntários.
Algumas têm assalariados, mas
são todas corporações de bombeiros voluntários, sim.
Faz sentido ter o socorro das
populações dependente do voluntariado?
O facto das pessoas serem
voluntárias não quer dizer que sejam amadoras…Nem que sejam irresponsáveis.
Não é a isso que me refiro.
Têm formação, um aspeto que
está a ser acelerado. Não ficam nada a dever aos profissionais. Nesta altura que
atravessamos, os custos/benefícios dos bombeiros profissionais relativamente aos
voluntários é muito complicado para o país.
Fonte:
noticiasdeaveiro
Sem comentários:
Enviar um comentário