domingo, 24 de abril de 2011

Testemunho na 1ª Pessoa: André e as Bombas

André Meirinhos Pires, 25 anos, residente na Especiosa-Genísio (Miranda do Douro), trabalha numa empresa de obras públicas, em Espanha, como camionista. No dia 16 Janeiro de 2011, pelas 11:30h, antes de almoço, o André participava numa montaria. Era um dia normal, ele tinha combinado ir à montaria e estava todo contente, “porque para mim era uma festa e um dia diferente do habitual”.

A Montaria da raposa organizada pela aldeia, coberta por seguro, tinha 14 Caçadores mais 10 “batedores”, e era neste grupo que André seguia, participando na batida. A função dos batedores são fazer uma cerca por partes, fazendo barulho, muitas vezes utilizando explosivos ou engenhos explosivos artesanais, e quanto mais potente for o explosivo mais barulho faz, fazendo com que as raposas se afugentem e vão de encontro aos caçadores, que se encontram com a “mancha” cercada. Há 3 ou 4 anos que participa neste tipo de convívios, só que neste dia a sua vida iria sofre uma considerável alteração.

Um dos engenhos explosivos utilizados pelo André rebentou-lhe na mão, deixando-o imediatamente em estado de gravidade. É o próprio que assume que comprou a bomba num fogueteiro, (idêntica á dos foguetes utilizados nos arraiais)e que este tem de ser “lançado” com uma brasa. “O isqueiro não prende, ou seja não faz com que haja combustão lenta, faz com que haja combustão rápida … Para não andar sempre com o cigarro aceso, utilizou o isqueiro”

Após o rebentamento, e mesmo junto de outros batedores que se encontravam ao seu lado, André foi o único que ficou ferido. “Olhei para a mão, vi-a naquele estado, o meu único pensamento foi: estraguei a minha vida!” , disse-nos ele com alguma tristeza. Ficou muito chocado, mas sempre esteve consciente. Um dos rapazes que estava ao lado dele auxiliou-o, chamando os restantes participantes da montaria, que o levaram imediatamente para o largo do santuário da Nossa Senhora do Naso, pois o INEM não teria acesso ao local onde se encontravam devido aos caminhos difíceis e barrentos.

Esperou cerca de meia hora pelo INEM (ambulância), e á chegada da ambulância de Suporte Básico de Vida de Miranda do Douro, os seus tripulantes activaram de imediato o Helicóptero 3, estacionado em Macedo de Cavaleiros. Quando chegou ao hospital sentiu-se muito triste, com dores e nauseado. Começou mentalizar-se do sucedido, e pensar no que poderia acontecer por ter a mão e o abdómen naquele estado, apesar de ter sido sempre acompanhado e acalmado pela equipa de INEM, esta que teve um papel fundamental na actuação e acompanhamento.

André confidência-nos que “Não era uma necessidade, ter participado numa brincadeira, de certa forma irresponsável, e senti-me inferior, apesar de ter tido muito apoio dos meus amigos, senti que a minha vida não iria ser mais a mesma.”

Aproximadamente um mês em Bragança internado no serviço de ortotraumatologia, foi também aí onde efectuou a primeira cirurgia, tendo depois sido reintervencionado pela segunda vez, para efectuar limpeza/desbridamento da ferida cirúrgica.

O serviço deu-lhe alta por um dia para poder ir á festa da aldeia de Genisio e isso ajudou-o bastante para ter mais força de vontade e determinação para ultrapassar esta fase. Só o facto de poder estar aquele dia com os meus amigos e familiares em ambiente de festa deu para perceber que tinha muito apoio dos mesmos. Nessa mesma segunda feira foi efectuar penso, este com boa evolução cicatricial, e deram-lhe alta clínica, tendo de efectuar penso de dois em dois dias no próprio serviço para poder ser avaliado pelos médicos e enfermeiros que o acompanharam ao longo de todo o mês. Na segunda feira da semana seguinte foi internado no hospital de Macedo de Cavaleiros, para efectuar enxerto (onde lhe retiraram uma porção de pele do membro inferior para colocar na mão). Oito dias após o enxerto foi efectuado penso e no dia seguinte teve alta, ficando internado duas semanas). “Naquela cama do hospital tentei perceber que podia ter sido bem pior, apesar de me mentalizar que no futuro iria ter sempre limitações físicas, e que isso me afecta a nível psicológico.”

O seu futuro profissional vai ser afectado, tanto neste tempo que esteve parado, tal como no manuseamento e condução de máquinas. Ainda assim com um empenho e força de vontade extraordinário comenta-nos: “Vou tentar levar a minha vida de forma normal, mas quando olho para a mão lembro-me de tudo e fico triste. Tenho apoio tanto da minha família como dos meus amigos, apesar de, no inicio os meus pais se terem sentido bastante revoltados com o sucedido) e isso ajudou-me muito.”



Enquanto estive hospitalizado, não se sentia sozinho pelo facto de ter sempre muitas visitas e isso ajudou-o muito na fase inicial, ao mentalizar-se do que realmente tinha acontecido, fez com que se abstraísse de tudo, o que também o ajudou. Está ainda de baixa, a empresa onde trabalha tomou logo conhecimento e nunca o descriminou, apoiando-o com todos os seus direitos.

Neste momento tem sessões de fisioterapia no Centro de Saúde de Miranda do Douro, que a seu ver e da fisioterapeuta têm tido baste evolução, notando a diferença nas pequenas actividades do dia-a-dia.

André promoveu este entrevista com o intuito de aconselhar e ajudar na prevenção deste tipo de incidente.”Só me resta aconselhar a quem tem este mesmo gosto pelas montarias para ser responsável, e não ter a mesma atitude irracional que eu tive.Eu tinha já, anteriormente o exemplo de jovens que tinham tido esta má experiência com o uso de bombas, inclusive um senhor da minha aldeia que ficou com um membro superior afectado pelo uso de bombas, que me devia ter servido sempre de exemplo para o não uso destes engenhos.”

Mesmo falando toda a vida nisto, para o André compartilhar a ideia de que o importante seria mesmo proibir totalmente o uso de bombas, e haver maior fiscalização e vigia deste tipo de iniciativas. Apostando na formação e prevenção por parte das entidades responsáveis. A aplicação da lei não é suficiente. Deveria haver um responsável por cada montaria e uma maneira de chegar à população, seria a sensibilização na primeira pessoa, tendo já disponibilizar-se para a eventualidade de efectuar uma campanha para a população alvo.

“O maior susto já passou”

Com um genuíno sorriso, o André despede-se do CBBraganca, preparando-se para mais uma sessão de fisioterapia, e para mais um novo dia da sua nova vida. Também aproveita para deixar o seu profundo agradecimento a todos aqueles que o ajudaram desde a primeira prestação de socorro, aos médicos e enfermeiros que o acompanharam no internamento, bem como aqueles que sempre o apoiaram em tudo.

6 comentários:

Patrícia Antão disse...

Só olhando para o rosto de um amigo que acaba de apanhar muito provavelmente o maior susto da vida, com lágrimas no rosto, tentar dar um abraço e dizer: "O que fiz eu à minha vida Patrícia?". Só acompanhando-o no seu processo de internamento, alta e o regresso a casa, restabelecendo uma nova vida, com algo diferente. Não uma diferença física que todos olham, questionando-se: “o que aconteceria para ter ficado assim?!”; “Tão novo…!” por estes ou semelhantes comentários de curiosidade social, mas o olhar do André, que desde sempre conheci, e que naquele dia mudou. Um olhar de culpa e arrependimento. Uma atitude de que a sua responsabilidade iria aumentar desde então.
O sorriso de quando os amigos o iam ver ao hospital e de quando o mais animado jovem da aldeia conseguiu marcar presença na famosa festa do “2 de Fevereiro” em Genísio.
O André, nunca será um André diferente! Será sempre aquele “ganapo” com energia que nos faz sorrir a todos, e que neste momento precisa de nós e nós dele…
É um exemplo de coragem e sem dúvida, não das formas que queríamos, um meio de sensibilização para que isto não volte acontecer, nem na Especiosa, nem em Genísio, nem em qualquer outro lugar que tenha gosto por este tipo de actividades.
Divirtam-se, tal como o André sempre gostou de se divertir… mas ajam com racionalidade, pensando no estado em que a mão do André ficou, mesmo tendo isto sendo “um pequeno grande susto”. “Podia ter sido pior!”… para que a próxima não seja pior ainda!
Força André, com “potência” tu és GRANDE…
E os teus grandes amigos estão como sempre estiveram, aqui para tudo o que precisares, nem que seja simplesmente para sorrir e ir a uma próxima montaria apanhar essa raposa que nos “escapou”!

Anónimo disse...

Em nome de Genísio, um abraço ao André de todos nós. Que isto sirva de lição. Força André!

Amilcar disse...

foste uma mãe para o rapazinho patricia devia beijar o chão que tu pisas é triste mas á que ajudar a erguer a cabeça ao rapaz

Belinha disse...

todos os amigos estivemos e vamos estar sempre d lado dele pro apoiar sempre....Pk é uma pexoal fenomenal super divertida e nos esta a dar uma lixao d vida pela forxa d vontad k nunka a perdeu com tudo ixto....Um bjinhu super e mega espexial pro noxo russo pela pexoal alegre k é....

Faustino Antão disse...

Oulá André, só porqui (facebook)soube desta situaçon, mesmo nun tenendo muita familiaridade cuntigo porque sou de Zenízio i bibo an Lisboua, a abaluar pul que li i ls comentairos, sei que bas a dar la buolta po riba.
Fuorça miu caro.

Faustino Antão disse...

Oulá André, só porqui (facebook) soube desta situaçon, mesmo nun tenendo muita familiaridade cuntigo porque sou de Zenízio i bibo an Lisboua, a abaluar pul que li i ls comentairios, sei que bas a dar la buolta po riba. Fuorça miu caro.