quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Investigador diz que "Portugal não está preparado para grandes incêndios"

O investigador Domingos Xavier Viegas disse hoje, em Coimbra, que Portugal não está preparado para lidar com incêndios de comportamento extremo, como o que ocorreu no último verão no Algarve, que consumiu 25 mil hectares.

"Temos melhorado muito o sistema de Proteção Civil desde 2003, mas ainda há trabalho a fazer", referiu o professor universitário, numa palestra sobre "A gestão de grandes incêndios", organizada pelo Colégio Regional de Engenharia Florestal e pelo Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade.

Perante uma plateia constituída maioritariamente por comandantes de bombeiros, bombeiros e técnicos de proteção civil, Xavier Viegas utilizou o grande incêndio do Algarve, um dos seis maiores de que há registo em Portugal, para explicar comportamentos do fogo e falar da necessidade de experimentar novos métodos, nomeadamente ao nível do posto de comando.
 
Segundo o investigador, que realizou o relatório daquele incêndio para o Governo, as mudanças que podem trazer ganhos aos sistema de Proteção Civil passam pela melhoria do treino, das ferramentas que são usadas no apoio à decisão dos postos de comando e da comunicação com as autarquias e as populações.

Embora não consiga prever a ocorrência de fogos de grande dimensão, o professor Xavier Viegas frisou que, desde 2003, se têm registado incêndios "muito grandes" com áreas superiores a 10 mil hectares, "que não se verificavam no passado". "Isso não acontece só em Portugal, mas em outros países do Mundo, e uma das causas pode ser o aquecimento global que estamos a observar há umas dezenas de anos, que está a ser acompanhado de períodos de seca mais prolongados", disse.

O docente, que leciona na Universidade de Coimbra, considera que a abertura de uma rede de faixas primárias de contenção em volta das localidades é uma forma "prioritária" de prevenir, ajudar ao combate incêndios e minorar os prejuízos das populações.

Xavier Viegas recordou que, no caso do grande incêndio do Algarve, a área ardida estava referenciada desde há vários anos como uma zona onde era necessário abrir 256 quilómetros de faixas de proteção, mas que lamentavelmente apenas 50 quilómetros tinham sido concluídos.

O investigador de Coimbra lamentou ainda que fundos comunitários que poderiam ser utilizados na prevenção não sejam gastos por Portugal e tenham de ser devolvidos à União Europeia. "Dou o exemplo dos 10 milhões de euros que em 2006/2007 não se encontraram para fazer as faixas na zona ardida no Algarve, e seguramente que deve ter existido o dinheiro neste período de tempo, mas agora apareceram de repente sete milhões de euros para recuperar a área depois de queimada", sublinhou.
Fonte: DN/Lusa

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