Num ano de grandes alterações ao nível da lei orgânica da ANPC e da alteração da legislação que regula o SIOPS parece que mais uma vez os Homens e Mulheres presentes nos TO's ficaram esquecidos. Criaram-se cargos, agrupamentos, Gruata's e um sem número de alterações que têm em vista o melhoramento da organização do Combate a Incêndios.
As dificuldades encontradas nos anos anteriores no que há logística diz respeito continuam iguais. A preocupação constante no combate a incêndios e a sua rápida extinção deixa mais uma vez de lado as necessidades básicas dos combatentes, entre elas, a higiene, alimentação e o descanso adequado. Já falamos tanta vez delas em anos anteriores, em seminários, na comunicação social e em locais próprios.
Uma viatura que sai as 19h30 de um quartel, com 5 homens, numa viatura pesada, a 300 ou 400 quilómetros do incêndio e começa a trabalhar às 5h da manhã com quase 10 horas de movimentação e posicionamento pode ter que rendimento?
Que segurança pode imprimir o motorista desta viatura sem descansar durante tão grande período de tempo? Que segurança imprime esta equipa?
Que foi feito nos últimos anos para combater isto? Zero!
Que sentido faz cada corporação enviar um meio para rendição quando poderia ser preparado meio de transporte múltiplo pela ANPC para todos? Seja ele autocarro, comboio ou em situações de maior distância transporte aéreo, com recurso às bases da força Aérea e aos seus meios. Não fazem voos de reconhecimento no Incêndios? Não me choca nada o transporte em meio aéreo em longas distâncias para estas situações. O combate a incêndios não é uma situação prioritária de segurança nacional?
Estudos comprovam a maior probabilidade de ocorrência de acidentes em Homens esgotados pelas horas, outros tantos estudos comprovam que estruturas mecânicas do tipo fora-de-estrada, derivados dos seus chassis, componentes, pneus, etc., não estão preparados para viagens de horas contínuas sem que isso afecte a segurança dos seus ocupantes.
Como se ainda não bastasse ainda temos o problema dos pneus fustigados da condução fora de estrada e a despreocupação em relação à fiscalização e substituição preventiva dos pneus afetados por fissuras, cortes e desgaste. Como se a ANPC até não pagasse os pneus danificados durante o período do DECIF. (não há desculpa).
Existem muitos culpados desta situação, eu sou um deles como vocês também, que continuamos cegos pelo amor à camisola e nos deixamos usar desta forma absurda sem qualquer mínimo respeito pela dignidade humana.
Cabe aos postos de comando em conjunto com as autarquias locais e proteção civil municipal evitar que o pessoal tenha de descansar no alcatrão, tomar banho em tanques dos próprios carros ou comer na terra, no pó ou no fumo muitas vezes do seu próprio bolso. Pior do que isso, como a um colega nosso que em Bragança teve de pagar 1,5 euros por uma garrafa de água para poder continuar a hidratar-se.
A carne para canhão, que são os bombeiros, têm por baixo da pele e da farda um ser Humano que com ele transporta vida e dignidade. Pelo respeito pela vontade destes Homens em deixar a sua casa e família para fazer centenas de quilómetros para extinguir incêndios em casa alheia é favor (de uma vez por todas) dar importância à necessidade de uma logística funcional, proactiva e acima de tudo presencial.
Fotografia do Facebook que têm estado em discussão nas
redes sociais.
Que só se dá importância ao Bombeiro quando os incêndios assolam o nosso País, nós já sabíamos (que o digam as vítimas de acidentes dos anos anteriores), mas pelo menos que a importância dada nesta altura evite situações como aquelas que vimos nestas imagens. A culpa não é deles, nem há que ter nenhuma vergonha em fazê-lo, a vergonha é de quem não faz por evitar estas situações, dos responsáveis pelos Teatros de Operações.
Como qualquer bom Bombeiro, importa é desenrascar.
Tenho pena que leiam estes alertas mas façam olhos de "Cego" e assobiem para o lado.
Vida-por-vida.
Bem Hajam.
Ricardo Correia
ricardo@bps.com.pt
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