quinta-feira, 18 de julho de 2013

Jornal "O Crime": Mega-incêndio Ajuda a ‘Desflorestar’ Futura Barragem



O maior incêndio do corrente ano destruiu mais de 14 mil hectares de mancha florestal nos concelhos 
transmontanos de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Freixo de Espada-à-Cinta e Mogadouro,e deixou um rasto de destruição de milhões de euros.

O fogo lançou a suspeita de crime. Residentes e a Quercus, ao que o jornal ‘O Crime’ apurou, já repararam que a área devastada pelas chamas coincide, em grande parte, com a superfície que é necessário desmatar para prover o enchimento da albufeira da futura barragem do Sabor.

“Alguns dos terrenos que foram fustigados pelo fogo estariam na eminência de por lá passarem quer a nova barragem como os acessos.

É uma estranha coincidência”, diz um dos residentes em Parada, no concelho de Alfândega da Fé. A coincidência também não passou despercebida à Quercus,uma das associações que constitui a Plataforma Sabor Livre que contesta a construção da barragem, que questionou, em comunicado, “as sucessivas falhas nas diversas oportunidades para parar a propagação do fogo nas estradas a norte da Quinta das Quebradase sobretudo na EN225”. A Quercus estranhou ainda os “factores que determinaram a forma final do perímetro do incêndio, o qual não parece corresponder nem à meteorologia, nem às nuances do terreno onde o mesmo deflagrou”.

O fogo começou pelas 13h47 de 9 de Julho, em Picões, no concelho de Alfândega da Fé e, cerca de três horas depois, outra frente deflagrava na Quinta das Quebradas, Mogadouro. Os locais, distantes entre si cerca de 14 km, estão situados no extremo do regolfo da barragem. Fonte da PJ que está a investigar o incêndio em conjunto com a GNR, reconhece que o incêndio “deflagrou numa zona de fácil propagação e difícil combate”.

A área, que já tinha sido “desmatada, tinha ainda muita vegetação e arvoredo que precisa ser retirada aquando do enchimento da albufeira”. E foi a coincidência de as duas frentes de fogo se terem unido que “levantou suspeitas de que possa ter facilitado o trabalho de desmatação”.

Achados arqueológicos A PJ investiga, também, outra suspeita. “O mar de chamas pôs a nu vários achados arqueológicos que estavam a ser sondados, facilitando os trabalhos”, acrescentou a mesma fonte.

De acordo com os números da Agência Europeia de Fogos o incêndio, que começou na altura em que decorre a segunda fase de desmatação que se vai prolongar até 2014, destruiu 14967 hectares que, grosso modo, correspondem ao regolfo da Barragem do Baixo Sabor, que irá dispor de duas albufeiras.

A albufeira a jusante situase no concelho de Torre de Moncorvo. A albufeira a montante estende-se ao longo de 60 km, ocupando áreas dos concelhos de Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros. Toda a área florestal terá que ser desmatada, antes do enchimento da barragem e a Quercus já veio defender a necessidade de se elaborar um novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Baixo Sabor. “Se forem somados os 15000 hectares de área ardida às centenas de hectares de área inundada pela albufeira do Baixo Sabor, iremos ter um impacto no ecossistema brutal”, disse a Quercus.

O incêndio, que se estendeu ainda aos concelhos de Torre de Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta, destruiu linhas de comunicações, campos, searas, olivais e amendoeiras, palheiros, anexos de habitações e mato. Uma viatura dos bombeiros de Alfândega da Fé foi também consumida pelas chamas durante o combate. Os prejuízos “serão superiores a 5 milhões de euros”, diz um responsável pelo levantamento esclarecendo, contudo, que “neste valor não estão incluídos os gastos com o combate que, incluindo meios aéreos, pode ascender a mais um milhão de euros”.
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Jornalista: Amadeu Araújo
Fonte: Jornal "O Crime"
Fotos: CBBraganca

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