Mais de cem pessoas morreram entre 2005 e 2011 devido a intoxicação por monóxido de carbono, sendo que o maior número de vítimas foi registado na região Norte, de acordo com dados do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML).
Nos últimos seis anos, o INML registou após autópsia que 111 pessoas morreram devido à inalação de monóxido carbono, 55 na zona Norte, 12 na zona Centro e 44 no Sul.
De acordo com os dados do INML, a que agência Lusa teve acesso, dos 55 casos registados no Norte 39 ocorreram em contexto de acidente doméstico com lareiras, braseiras e esquentadores.
No Centro do país, contabilizaram-se 12 casos (oito homens e quatro mulheres), sendo quatro referentes a acidentes de trabalho (bombeiros), um de um lactente e um de acidente de viação seguido de incêndio.
O INML registou na zona Sul 44 casos de mortes relacionadas com a inalação de monóxido de carbono.
Em declarações à agência Lusa, o chefe do Núcleo de Segurança e Saúde da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), José Cunha da Cruz, explicou o que é o monóxido de carbono, os sintomas de uma intoxicação e como evitar situações de risco.
"Nunca é demais alertar as pessoas para os perigos da inalação de monóxido de carbono. A maior parte das vezes são os comportamentos das pessoas, a distracção que faz com que estejam expostas ao perigo", disse.
José Cunha da Cruz explicou que o monóxido de carbono é um gás que tem por características físicas tudo a favor para ser um gás venenoso, que não tem cheiro, não tem sabor, nem cor.
"É um gás que tem uma densidade muito parecida com a densidade do ar atmosférico e por isso se difunde com muita facilidade em qualquer ambiente. Se nós estivermos num ambiente em que haja quatro por cento de monóxido de carbono num determinado volume de ar este é letal para o ser humano", salientou.
Cunha da Cruz aconselha por isso especial cuidado com as lareiras, braseiras e salamandras que estejam em lugares fechados sem renovação de ar, pois a combustão pode originar a produção de monóxido de carbono bem como com esquentadores.
"Em caso de uma intoxicação, a pessoa não se apercebe bem do que está a acontecer, os sinais estão camuflados, podem ser outra coisa qualquer. O monóxido de carbono provoca dores de cabeça, mal-estar, náusea progressiva, o indivíduo vai ficando mal disposto, mas como não cheira a nada e está num ambiente aquecido a pessoa deixa-se adormecer, fecha os olhos, descansa um bocadinho e é o princípio do fim", disse.
Na opinião do médico, a prevenção passa pela educação das pessoas, o conhecimento dos sistemas de queima que têm de ter manutenção e exaustão, nunca ter janelas fechadas, ou seja, deixar sempre uma pequena frecha para entrar o oxigénio.
"Antigamente isso não acontecia, as pessoas usavam mais a lareira e as braseiras do que hoje mas também tinham casas em que havia má qualidade de isolamento, por isso entrava ar. Hoje com as casas modernas a intoxicação é mais fácil", contou.
Desde o início do ano, várias pessoas morreram alegadamente devido a intoxicação por inalação de monóxido de carbono. No dia 09 de Janeiro, um casal e uma criança com cerca de dois anos foram encontrados mortos no quarto (que tinha uma lareira acesa) da residência em Árgea, concelho de Torres Novas.
De acordo com José Cunha da Cruz, estas situações têm vindo a aumentar nos últimos anos mas, a sua contabilização é difícil uma vez que só através de exames toxicológicos se pode provar que foi devido à inalação de monóxido de carbono.
Correio da Manhã
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