sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

CARBONO NEGRO. Uma ameaça que Portugal ainda não vigia.


União Europeia prepara directiva para controlar a partícula que causa doenças cardiovasculares.

Existe uma partícula extremamente fina no ar que, uma vez inalada e de viagem feita até ao pulmão humano, é das mais nocivas para a saúde. Chama-se carbono negro, é a segunda maior causa do aquecimento global e Portugal não tem uma rede de monitorização do nível desta partícula existente no ar. É um de quatro países na União Europeia (UE) nesta situação, e a tutela justificou-o com o facto de não existir "neste momento qualquer obrigação a nível comunitário ou internacional" para "a medição do carbono negro".

Isto por se tratar de uma partícula (PM) com "diâmetro aerodinâmico inferior a 0,1 micrómetros", uma "fracção muito fina de partículas em suspensão", explicou ao i o Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia (MAOTE). Actualmente, as estações de medição da qualidade do ar em Portugal monitorizam apenas "as fracções PM10 e PM2,5", e o país "não [está] envolvido em projectos de medição do carbono negro".

Em zonas rurais, porém, a legislação comunitária obriga todos os estados-membros a "reportar a quantidade de componentes equivalentes a carbono negro" que existem na "concentração" de partículas com 2,5 micrómetros. E a tutela nunca chegou a responder quando o i a questionou sobre os dados relativos a estas medições. O carbono negro resulta da queima de combustíveis fosséis e biomassa, através de motores a diesel ou fornos a lenha, por exemplo.

A Comissão Europeia (CE) anunciou em Dezembro estar a preparar uma directiva para vincular cada um dos 27 países a novas metas na qualidade do ar, a atingir até 2030: o objectivo é sobretudo evitar as cerca de 53 mil mortes prematuras que a instituição estima que serão causadas pela poluição. E uma das prioridades cai sobre o carbono negro, um dos poluentes climáticos (a par do metano) de curta duração. Em suma, "a UE diz é que é preciso dar prioridade à avaliação deste problema", resumiu Francisco Ferreira.

O especialista da Quercus em alterações climáticas lamentou ao i que "ainda não existam limites ou obrigações sobre este tema", embora confiante que o carbono negro irá "receber prioridade da parte do ministério" liderado por Jorge Moreira da Silva.

Sobretudo por já não ser possível ignorar que esta partícula seja "tóxica" e que esteja "associada ao agravamento da asma", além do "cancro do pulmão".

Um relatório recente da Agência Europeia do Ambiente, intitulado "Status of Black Carbon Monitoring Ambient Air in Europe", sublinhou também que a substância pode "causar ou agravar doenças cardiovasculares e pulmonares". A entidade estima que perto de 420 mil pessoas morreram prematuramente em 2010, na UE, devido à poluição.

As designações de partículas - PM10 e PM2,5 correspondem às dimensões monitorizadas actualmente - funcionam como degraus numa espécie de escala de ameaça à saúde humana. "Sempre se soube que existia uma relação entre as partículas e os seus efeitos na saúde", explicou o especialista, e daí "se ter criado a referência PM2,5" para suceder à PM10, de maior dimensão, "por ser insuficiente". Francisco Ferreira lembrou que "enquanto as partículas de maior dimensão "ficam retidas na zona traqueobrônquica", outras mais finas "são facilmente absorvidas pelo nosso sistema respiratório, chegando aos pulmões". E neste lote está o carbono negro.

Depois vem a parte ambiental. E ao contrário da maioria dos gases poluentes, o carbono negro "actua ao contrário", por ter um efeito de aquecimento no clima. "É um gás com efeito de estufa" pois absorve radiação solar e tem "aquilo a que se chama o forçamento radiactivo positivo, ou seja, aquece", expôs o especialista da Quercus. É mau, mas ainda está longe do papel exercido pelo dióxido de carbono - apesar de ser um dos gases que "absorve menos radiação solar", a quantidade de CO 2 na atmosfera "é tal" que o tornou na "principal causa do aquecimento global", lembrou Francisco Ferreira.
fonte:i

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