domingo, 23 de novembro de 2008

Quando a Experiência da Vida É Determinante...


Esta semana aprendi que, heróis não são aqueles que realizam obras notáveis.Mas os que fizeram o que foi necessário e assumiram as consequências.Um dia estava eu no quartel de bombeiros em Peniche quando uns pais angustiados vieram pedir ajuda. A sua filha estava mal psicologicamente. Tinha desaparecido de casa e eles tinham receio que ela se suicidasse.Peniche é uma península com boas praias mas também com muitas falésias que as pessoas com problema aproveitam para desistir da vida.Juntámos uma equipa e resolvemos começar na zona norte junto à estrada da marginal em frente à Papoa.Mas chegamos ao local recebemos logo más notícias, alguém tinha visto a moça atirar-se da falésia.Este tipo de situações é muito frustrante para quem pretende salvar porque as hipóteses da pessoas estar viva são extremamente diminutas e portanto a partir daí objectivo é recuperar corpo para entregar à família.Na equipa ia um bombeiro de seu nome Fernando Malheiros, carpinteiro naval de profissão e pescador experiente que conhecia todos os acessos possíveis lugares daquela falésia onde a nossa vítima poderia estar, isto é claro se não tivesse atingido o mar. Depois de verificados todos esses lugares sem resultado, acabamos por parar a busca partindo do princípio que a vitima teria de facto caído ao mar e se tinha afogado.Quando íamos de regresso ao quartel o Fernando volta-se para mim e diz: Hoje de madrugada quando a maré estiver baixa volto cá com outra equipa. E de facto nessa noite a equipa do Fernando descobriu a vítima numa caverna não acessível durante o período das primeiras buscas. Estava em hipotermia e tinha uma fractura numa das pernas, mas estava viva. Foi de imediato levada ao hospital. Se não tivesse sido Fernando a tomar a decisão de voltar naquela noite, a moça teria com certeza morrido.Mais tarde em conversa com ele perguntei-lhe como seria que ela tinha conseguido chegar à gruta com uma perna fracturada e ele respondeu de uma forma simples mas profunda, de quem conhece e respeita: foi o mar que a devolveu.Um abraço ao Fernando.


Autor: Francisco Zaragoza

Fonte: Jornal “Bombeiros de Portugal”

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