As autoridades aeronáuticas estão a investigar um incidente ocorrido com um helicóptero Kamov, em agosto, que poderá ter resultado de falha humana e irá custar mais de um milhão de euros aos contribuintes.
No dia 28 de agosto, 35 segundos após descolar do heliporto de Santa Comba Dão, um helicóptero Kamov, da EMA (Empresa de Meios Aéreos, detida pelo Estado), que se preparava para combater incêndios, teve uma inesperada falha de motor. A tripulação, de acordo com o relatório do Gabinete de Segurança de Voo, demorou 15 segundos a reagir - "tempo demasiado longo", na opinião de especialistas ouvidos pelo JN - e terá "forçado" de tal maneira o segundo motor que, quando o aparelho aterrou, em Viseu, já não levantou mais voo. Uma caixa de transmissão e um motor novos custam mais de um milhão de euros.
O relatório sumário do incidente (RSI), a que o JN teve acesso, elogia a forma expedita como o piloto e o copiloto conseguiram conduzir o Kamov, quase 19 minutos, até à pista de Viseu, aterrando em segurança. Mas, por outro lado, revela medidas adotadas pela tripulação que, conforme explicaram ao JN alguns pilotos seniores e com milhares de horas de voo, poderão ter sido motivo de "problemas graves" que se vieram mais tarde a detetar numa análise ao motor e à caixa de transmissão.
"O que o RSI demonstra é que, ao ser surpreendida com a falência de um dos dois motores, a tripulação, porventura algo nervosa, aumentou a velocidade e terá havido excesso de pedido de potência ao motor que estava bom. Este terá dado o máximo que pôde e acabou por sofrer danos que o impedem agora de voar, de acordo com o que os técnicos apuraram ao ler o FDR (Flight Data Recorder)", disse, ao JN, um piloto de topo de carreira.
Este mesmo piloto e um outro também sénior asseguram que "a leitura do RSI demonstra que os procedimentos da tripulação terão sido feitos ao contrário".
"É minha convicção de que estiveram no limiar de uma catástrofe, de se despenharem", afirma o primeiro piloto. Já o segundo lembra que a saída do heliporto de Santa Comba Dão fica a escassos metros da feira local. "Se fosse em dia de feira e a coisa tivesse dado para o torto, era uma tragédia", sublinha.
Segundo apurou o JN, o comandante do Kamov de Santa Comba Dão ultrapassou, três dias antes do acidente, o limite das oito horas de voo diário permitido por Lei. "Poderia estar cansado e com excesso de fadiga", admitiu, ao JN, um prestigiado piloto, muito experiente no combate a fogos, razão pela qual vinca que "trabalhar oito horas a combater incêndios é muitíssimo mais desgastante do que fazer o mesmo tempo, por exemplo, a transportar doentes". Por outro lado, o comandante da aeronave, apesar de atualmente ser diretor de formação e treino, não terá voado muito regularmente durante os cerca de 18 anos em que foi inspetor do Instituto Nacional de Aviação Civil.
Já sobre o copiloto há uma outra questão que pode suscitar críticas. É que este terá estado mais de dois anos sem voar. "É um major que vem fazer umas horas à EMA porque no Exército não têm helicópteros", explicou uma fonte da Empresa de Meios Aéreos.
A EMA e o ministro da Administração Interna escudaram-se no "segredo da investigação em curso" para não responderem às questões do JN: qual o valor da reparação do helicóptero e quem a vai pagar? A tripulação vai ser alvo de inquérito disciplinar?
Já o Instituto Nacional da Avião Civil optou por não dar qualquer resposta.
1 comentário:
Não é Preciso Andar a Arranjar Desculpas para o Sucedido! Os Helicópteros não Máquinas que Sofrem um Desgaste Imenso, ainda mais quando Estão Afectas ao Combate a Incêndios, onde as Cargas Suspensas Pesadas os Esforçam ainda Mais! A Falha de um Motor por Si Só é catastrófica, mas Sendo o Kamov Ka-32 um Bi-Motor Permitiu que os Pilotos conseguissem Levar o Helicóptero até Terra sem "Danos de Maior". Óbvio que Dessa Acção Resultaram Danos e Esforços Extra nos Restantes Componentes, mas as Vidas dos Elementos da Tripulação Valem Mais do Que Isso!
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