segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Terramoto pode destruir 30% do PIB e causar mais de dez mil mortes


Chama-se OpenQuake, é um software único no mundo, determina o risco sísmico e prevê as perdas humanas e económicas resultantes de um terramoto que ocorra em qualquer região da Terra.


A aplicação foi desenvolvida pelo investigador Vítor Silva, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (UA), no âmbito do projeto internacional Global Earthquake Model, e calcula que um sismo com a mesma magnitude (8 na Escala de Richter) e o epicentro no local que desencadeou o Terramoto de Lisboa de 1755, provocaria hoje mais de 10 mil mortes e uma perda de 30% do PIB nacional.

O OpenQuake é um dos resultados da parceria público-privada iniciada em 2006 pelo Fórum Global de Ciência da OCDE, que através do projeto Global Earthquake Model juntou dezenas de instituições internacionais no desenvolvimento de bases de dados e ferramentas de avaliação do risco sísmico em todo o mundo.

Software usado nos EUA

O software da Univerdade de Aveiro já foi usado em parceria com o United States Geological Survey - a instituição americana que estuda a topografia da Terra, os recursos energéticos e os desastres naturais - para estimar as perdas humanas anuais para cada país do mundo.

Os resultados indicam que é no sudoeste Asiático e no Médio Oriente que se concentram os países onde o número anual de mortes provocadas por sismos é elevado e, por isso, é aí que os apoios financeiros internacionais (União Europeia, Banco Mundial) para reforço dos edifícios devem ser prioritários.

O OpenQuake está ainda a ser utilizado pelo PRISE, um projeto nacional financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) que envolve várias instituições e pretende calcular as potenciais perdas materiais e humanas em edifícios residenciais em Portugal.

"Quando este projeto terminar daqui a um ano, caso ocorra um sismo em qualquer parte do país será possível, numa questão de minutos, estimar quais as zonas do território mais atingidas e que, consequentemente, merecem especial atenção e meios de apoio", antecipa Vítor Silva.

Para efetuar as previsões, são necessários dados sobre as placas tectónicas e falhas geológicas da área geográfica que se pretende analisar; a localização, valor e número de ocupantes dos edifícios aí situados; informações sobre a qualidade da construção e estado de conservação dos imóveis na zona em investigação.

Ferramenta da prevenção

Essas previsões servem para indicar a governos, cientistas e à população qual é a vulnerabilidade sísmica de determinada área - num país, cidade ou rua - e a urgência ou não de se tomarem medidas preventivas que minimizem o número de mortes e os prejuízos económicos resultantes de um terramoto.

"O OpenQuake é uma plataforma de acesso livre para o cálculo da perigosidade e do risco sísmico", explica Vítor Silva, "e permite calcular a distribuição das perdas e danos para um cenário específico da ação sísmica, ou das perdas acumuladas devidas a todos os eventos sísmicos que podem ocorrer numa determinada região num dado período de tempo".

A determinação do risco sísmico pelo OpenQuake "depende principalmente das componentes perigosidade sísmica, exposição e vulnerabilidade", acrescenta o investigador. A última componente "assume particular importância, na medida em que uma eventual intervenção ao nível do reforço estrutural dos edifícios e infraestruturas pode ter influência direta na redução do risco sísmico associado".

Vale do Tejo e Algarve serão os mais atingidos

Para estudar o comportamento dos edifícios portugueses em cenários sísmicos, Vítor Silva recolheu, junto de várias instituições públicas nacionais, dados sobre as construções dos últimos cem anos, nomeadamente sobre os materiais, técnicas de construção usadas e valor patrimonial. No OpenQuake juntou ainda o atual número de ocupantes de cada um dos edifícios (Censo de 2011) e os registos das falhas tectónicas capazes de influenciar o território nacional.

O resultado deu origem a mapas onde se conseguem ver, ao nível das freguesias, as perdas esperadas. Assim, as regiões de maior risco sísmico estão à volta do Vale do Tejo, mais precisamente as zonas de Lisboa, Santarém e Setúbal. E no Algarve, em particular na região mais a Oeste.

Comparando os dados do Censo de 2001 com os de 2011, há um decréscimo do risco sísmico a nível nacional mas há, igualmente, um ligeiro aumento para o Vale do Tejo e Algarve, porque os edifícios, apesar de serem mais resistentes, existem em maior número.

Vítor Silva alerta que "um grande sismo irá acontecer mais cedo ou mais tarde em Portugal e o cenário para Lisboa e Algarve será bastante desastroso".
fonte:expresso

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