Desenvolver ferramentas que ajudem na gestão de incêndios florestais, melhorando a forma como se desenham atividades de prevenção e supressão de fogos - é este o objetivo do projeto FIRE-ENGINE!
Só este ano, foram registadas pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas cerca de 17 mil ocorrências, que resultaram em mais de 121 mil hectares ardidos. O FIRE-ENGINE pretende contribuir para a redução destes números!
Este projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no âmbito do Programa MIT Portugal, surge de uma parceria que junta equipas especializadas em sistemas de engenharia e gestão de risco (INESC TEC e Engineering Systems Division do MIT – Massachussetts Institute of Technology), equipas vocacionadas para a gestão florestal (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD - e Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa), e o parceiro empresarial Grupo Portucel Soporcel. "A equipa permite olhar de forma global para o problema e é isto que torna este projeto único!", refere João Claro, coordenador do projeto.
Mas afinal qual a relação entre a engenharia e a gestão florestal? A resposta está no conceito de "sistemas de engenharia", uma área científica emergente que "olha para os problemas na interseção entre engenharia, políticas públicas e gestão, combinando metodologias de cada uma destas áreas. É esta perspetiva que chega agora à área dos incêndios florestais."
"É possível reduzir frota de ataque estendido, mantendo a segurança"
Os investigadores envolvidos no FIRE-ENGINE têm vindo a estudar a interação do subsistema físico (floresta), com o subsistema político (decisores de recursos a alocar na prevenção ou na supressão), analisando "a forma como diferentes proporções de prevenção e supressão condicionam o comportamento final do sistema".
Utilizando a dinâmica de sistemas [ver glossário], uma técnica de simulação computacional, concluiu-se que "demasiada ênfase na supressão pode conduzir a um autorreforço na supressão com exclusão da prevenção, o que no longo prazo leva a resultados menos desejáveis do que uma abordagem mais equilibrada entre as duas componentes", adianta João Claro.
Com base em métodos de simulação estatística (Método de Monte Carlo [ver glossário]), e de programação matemática (Otimização [ver glossário]), foi também desenvolvido um modelo de planeamento e localização da frota de veículos usados em incêndios de grande dimensão. O distrito do Porto foi usado como caso de estudo, e as conclusões revelam que "é possível reduzir essa frota a um terço, mantendo o nível de segurança"!
Projeto termina em 2014
Por último, refira-se o desenvolvimento pela UTAD de uma ferramenta informática que, a partir de modelos matemáticos de previsão, estima a atividade diária de fogos em Portugal. Um software que está neste momento em avaliação na Proteção Civil.
Estes são exemplos das ferramentas desenvolvidas num contacto direto com os atores mais relevantes do sistema, a quem periodicamente são apresentados resultados do projeto. Falamos de entidades como a GNR, a Confederação dos Agricultores de Portugal, a Forestis – Associação Florestal de Portugal, a União da Floresta Mediterrânica, a Autoridade Nacional de Proteção Civil e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
A um ano da data de conclusão do projeto, após algumas publicações científicas, "estamos no momento de início de integração das várias ferramentas nos casos de estudo", assinala o investigador João Claro, adiantando que os próximos passos passarão por "mostrar que as ferramentas funcionam e estão disponíveis, tirar conclusões e criar recomendações para o planeamento e configuração do sistema".
Glossário:
Dinâmica de sistemas – É uma metodologia e técnica de simulação computacional para esquematizar, entender e discutir problemas e assuntos complexos. Faz parte da Teoria dos Sistemas. A base do método é o reconhecimento de que a estrutura de qualquer sistema é, com frequência, tão importante na determinação de seu comportamento quanto os próprios componentes individuais.
Otimização – Em matemática, o termo otimização, ou programação matemática, refere-se ao estudo de problemas em que se procura minimizar ou maximizar uma função através da escolha sistemática dos valores de variáveis reais ou inteiras dentro de um conjunto viável.
Método de Monte Carlo – É um método estatístico utilizado como forma de obter aproximações numéricas de funções complexas. Este método tipicamente envolve a geração de observações de alguma distribuição de probabilidades e o uso da amostra obtida para aproximar a função de interesse.
Foto: Flickr/ Dunechaser
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