Entre 2007 e 2012, o número de faixas de contenção de incêndio nas florestas desceu 75%. Governo lembra que só é dono de 2% da área florestal.
“Todos os anos são devolvidos milhões de euros a Bruxelas, de fundos que não investimos na prevenção”. O alerta é feito por Domingos Xavier Viegas, coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, que conduziu o inquérito ordenado pela tutela aos fogos que, no ano passado, devastaram o Algarve.
“A taxa de execução de acções do programa PRODER, destinadas à defesa da floresta, foi inferior a 10% em todo o país. Este valor reporta-se a Setembro do ano passado”, sublinha o investigador, que fala num desinvestimento progressivo na prevenção: “As faixas da rede primária [caminhos abertos no meio da floresta, com 125 metros de largura, onde é desbastada vegetação para diminuir a intensidade das chamas em caso de incêndio e facilitar a circulação de bombeiros] estão a ser feitas a um ritmo muito lento, de uma forma desarticulada e sem monitorização”. E dá como exemplo a zona do incêndio de Tavira, em 2012: “Verificámos que, apesar de desde 2006 estarem planeados 256 quilómetros de faixas, apenas tinham sido executados 56”.
Os dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) falam por si. Entre 2007 e 2012, o número de faixas de rede primária implementadas na área florestal caiu 75%: em 2007, a rede foi alargada em 12.010 hectares, tendo descido sucessivamente até 2011, ano em que foi alargada em 1.836 hectares e, em 2012, 3.036.
Entre os piores da Europa
Fonte do gabinete do secretário de Estado das Florestas, Francisco Gomes da Silva, lembra, no entanto, que há «vários actores com responsabilidade» na matéria: “a grande maioria (92%) da floresta é privada, sendo o Estado dono de 2%, e as autarquias e comunidades locais dos restantes 6%”.
Nas áreas da sua competência, acrescenta, o ICNF fez, desde 2011, trabalhos de gestão de matéria combustível “em perto de 46 mil hectares» e realizou operações de manutenção «em mais de 1.100 pontos de água e 19 mil quilómetros de rede viária florestal”. O ICNF garante ter ainda expandido a rede primária de defesa da floresta contra incêndios “em mais de seis mil quilómetros”.
Mas, adverte Maria do Loreto Monteiro, presidente da Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais, a ‘dose’ de prevenção não está a acompanhar o investimento no combate: “O Governo gasta quase quatro vezes mais no combate aos incêndios do que na prevenção. Em 2012, gastaram-se 75 milhões em combate e 18 milhões em prevenção. Este ano, atribuíram 74 milhões para combate e 20 para prevenção”.
Loreto Monteiro lembra que os 110 mil hectares de área ardida em 2012 mantêm Portugal com “o pior desempenho em matéria de prevenção entre os países do Sul da Europa”, de acordo com o relatório publicado em Março pela Nações Unidas sobre o estado das florestas no Mediterrâneo.
Para Xavier Viegas, este ano está a ser “muito difícil” e semelhante a 2003, “devido à abundância de vegetação fina no terreno, ao calor e ausência de chuva por um período já muito prolongado”.
Cinco bombeiros mortos
“A sociedade não tem o direito de pedir aos bombeiros que sacrifiquem as suas vidas colocando-os em risco com as suas acções negligentes. Não basta a população lamentar-se nos meios de comunicação social, mas depois deixar o espaço em volta das casas cheio de material combustível”, alerta o investigador, referindo-se aos inúmeros acidentes que têm vitimado os bombeiros: só em Agosto morreram cinco.
Fonte: Sol
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