Uma viatura de combate a incêndios dos Voluntários de Albergaria-a-Velha despistou-se, no passado dia 29 de junho, quando regressava de um incêndio. Cinco bombeiros ficaram feridos sem gravidade. Este acidente está longe de ser o único registado este ano com veículos de emergência e veio alertar, mais uma vez, para uma realidade que nos últimos anos já tirou a vida a vários bombeiros.
Consciente desta realidade, a Escola Nacional de Bombeiros promoveu, em Palmela, um curso para 12 formadores, que assim se encontram aptos a preparar os motoristas de veículos de emergência para uma condução defensiva, numa clara aposta na segurança.
Baixar o índice de sinistralidade registado com veículos de emergência, proporcionando aos bombeiros os conhecimentos e as técnicas fundamentais à prestação do socorro com a máxima segurança, é o intuito da Escola Nacional de Bombeiros (ENB), que neste mês de julho promoveu, em Palmela, um curso de condução defensiva para viaturas de emergência para um primeiro grupo de 12 formadores.
Em declarações ao Jornal Bombeiros de Portugal (BP), José Ferreira, presidente da ENB explica a importância desta formação “para a generalidade dos bombeiros portugueses, que visa “o domínio das técnicas de condução e a gestão da adrenalina em situações de emergência”.
José Ferreira, numa deslocação às instalações da CR&M, em Palmela, onde decorreu a formação, teve a oportunidade de se juntar aos formandos e inteirar-se não só do trabalho desenvolvido, mas também das expectativas dos participantes.O responsável explica que a ideia da escola é assegurar uma bolsa de formadores nesta área “o que permitirá replicar esta formação pelos quartéis de todo o Pais” Carlos amalho, bombeiro desde 1989 e formador da ENB em condução fora de estrada, e o coordenador desta formação, lembra que até hoje as preocupações residiam na vertente da condução fora de estrada, tendo em atenção as áreas percorridas por veículos de combate a incêndios.
Contudo, a realidade e as estatísticas mostram que a maior parte dos acidentes de viação acontecem nos percursos de e para os teatros de operações, situação que levou a ENB a preocupar-se com esta necessidade, criando curso com base no conceito de “condução defensiva”, Segundo Carlos Ramalho, a ideia é ter um curso formatado até outubro, levando esta formação a todos os bombeiros.
Os 12 novos formadores, das zonas Norte, Centro, Alentejo, Algarve e Lisboa, estão já preparados para, em regime de formação externa, preparem os operacionais para uma condução segura.
“Infelizmente, achamos sempre que sabemos tudo e quando somos confrontados com situações imprevistas,em que é preciso controlar uma viatura em situação limite, logo se percebe que não se sabe tudo”, refere o formador que admite ter aprendido “coisas novas” e muito “importantes” como por exemplo o controlo da derrapagem numa curva. “As escolas de condução ensinam o essencial mas as distâncias de segurança, o controlo operacional e a gestão da velocidade de travagem são, por exemplo, conhecimentos determinantes quando é preciso minimizar os efeitos de um possível acidente”, sublinha.
Para além das questões técnicas, Carlos Ramalho lembra que os bombeiros lidam com situação de muito stress e tensão e nem todos conseguem gerir estes estados de espírito, sem desvalorizar os vários aspetos relativos a segurança da condução. “É por tudo isto que esta formação é essencial. Não há receitas milagrosas mas é indispensável antecipar comportamentos”, realça.
António Macedo, responsável da CR&M, explica que esta formação de 40 horas incluiu as vertentes teóricas e prática, de modo a dar aos operacionais as ferramentas necessá-rias para que possam passar a outros os conhecimentos adquiridos, contudo desafiou a escola a intensificar a aposta nesta área, sugerindo uma formação mais completa.
Formação descentralizada
Numa nova dinâmica, no início de um novo ciclo, a Escola Nacional de Bombeiros tenta dar resposta às questões mais prementes. Nesse sentido, José Ferreira anuncia investimentos na aquisição de equipamentos de saúde para os polos da Lousã e São João da Madeira, o que permitirá “pela primeira vez levar a formação na área de saúde para fora de Sintra”. Já para o próximo ano, estas ações deverão chegar também a “algumas Unidades Locais de Formação”, uma mais-valia para estas infraestruturas que em breve deverão, também, ser instaladas nas áreas que estão a descoberto.
Escola com novo horário
A nova equipa da ENB, atenta às solicitações dos bombeiros, com dificuldades em cumprir as formações em horário laboral, prepara-se para efetuar alterações no funcionamento.
Assim, logo que cumpridas todas formalidades legais, as ações de formação passam a realizar-se à noite e ao fim de semana, com base na disponibilidade do público-alvo.
Segundo José Ferreira “os formadores têm que se adaptar aos horários dos formados como tal há que haver flexibilidade”. Assim, sendo, parece estar ultrapassada uma questão há muito levantada pelos operacionais que servem os quartéis dos Bombeiros de Portugal.
A ENB no projeto “Bombeiros Séc. XXI”
O projeto “Bombeiros séc. XXI” promovido pela Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) enquadra-se nos objetivos definidos pelo Programa Operacional do Potencial Humano (POPH) no âmbito do Programa de Formação-Ação para Entidades de Economia Social e vai contar com a participação direta da Escola Nacional de Bombeiros (ENB).
O projeto é desenvolvido em quatro regiões, sendo a distribuição das entidades destinatárias por região da responsabilidade da LBP: Norte (34), Centro (31), Alentejo (13) e Algarve (10).
O objetivo central do projeto consiste na promoção de processos estruturados e consistentes de qualificação das Associações Humanitárias de Bombeiros (AHB), devidamente adaptados à cultura e às especificidades destas entidades, visando melhorar a capacidade de gestão, a eficácia e a sustentabilidade as suas intervenções.
Para além da LBP e ENB, o projeto conta ainda com duas entidades consultoras: KWL (regiões Norte e Centro) e RHMAIS (regiões Alentejo e Algarve).
No âmbito deste projeto cabe à ENB planear, organizar e certificar as ações de formação para os elementos do quadro ativo dos corpos de bombeiros e os workshops para dirigentes (entendidos no âmbito deste projeto como sendo os dirigentes das associações e os elementos do quadro de comando dos corpos de bombeiros). A ENB irá privilegiar a formação em Condução Defensiva e a formação na área da Saúde para os elementos do quadro ativo.
Relativamente aos workshops as temáticas selecionadas enquadram-se nas áreas da gestão de recursos humanos e financeiros, legislação e outras áreas de interesse que pretendem dar resposta às necessidades atuais dos dirigentes das associações e corpos de bombeiros.
O projeto Bombeiros séc. XXI decorre entre junho de 2013 e junho de 2014 e teve o seu arranque com as sessões de imersão realizadas em Vila Real, Cantanhede, Albufeira, Évora, Paredes e Guarda. As ações de formação a realizar pela ENB terão início no mês de Outubro.
Jornalistas: Patrícia Cerdeira / Sofia Ribeiro
Fotografias: Marques Valetim
Fonte: Jornal Bombeiros de Portugal Edição de Julho
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