A convite do BPS, chegamos à conversa com o novo Comandante Nacional da Protecção Civil a fim de lhe deixar algumas perguntas no arranque desta sua nova função. Preocupados sobre como será o futuro que se aproxima decidimos interroga-lo com as perguntas que consideramos mais adequadas. Muito mais haveria para perguntar se o tempo e o espaço o permitisse.
De uma forma curta e directa foi-lhe apresentado as perguntas para o qual gostaríamos de falar.
Fique com o resultado desta entrevista ao novo CONAC, Comandante José Manuel Moura.
Agradecemos a abertura e simpatia do mesmo para com o bombeirosparasempre.
Fique com o resultado desta entrevista ao novo CONAC, Comandante José Manuel Moura.
Agradecemos a abertura e simpatia do mesmo para com o bombeirosparasempre.
- Depois do trabalho desenvolvido como CODIS, que objectivos e mudanças traçou nesta sua nova posição?
Os objectivos são os que se encontram consagrados na lei, e muito em concreto os previstos no Sistema Integrado de Operações de protecção e socorro. Quanto a mudanças, naturalmente que acontecerão, tendo como fim último dotar o sistema e a estrutura com os meios e os procedimentos necessários de forma a garantir a cada momento aos nossos concidadãos a melhor protecção e socorro possível.
- Ser CONAC era um ambição sua?
Estas funções terão que ser entendidas como uma missão que nos é atribuída em determinadas circunstâncias; não se trata de um corolário de uma carreira. A partir do momento em que somos nomeados, o nosso empenhamento e compromisso com a função é total.
- Constava-se que se não fosse CONAC agora, o seu futuro, poderia passar pela Europa, num cargo da União Europeia a tempo inteiro, confirma?
Apesar de muito me honrar, essa suposição não tem qualquer fundamento. Agora, como sempre, estou focado em servir o meu país, oferecendo o melhor que sei e posso.
- Como vê nas palavras dos Bombeiros do Distrito de Leiria a seguinte afirmação "Ele é um dos nossos"?
Trata-se de uma expressão simpática e, neste caso sim, representa o corolário de uma missão de 9 anos a comandar o distrito de Leiria. Sim, sou um deles.
- A sua saída de CODIS de Leiria deixou marcadas saudades, levando mesmo a movimentos de homenagem por parte dos Bombeiros do Distrito, como vê esta atitude?
Foi-me recentemente proporcionado um jantar, onde estiveram presentes algumas centenas de pessoas, de todos os quadrantes políticos, técnicos, colaboradores, Bombeiros, oficiais de ligação, entidades públicas e privadas, civis e militares, transmitindo-me um esclarecido sentimento de dever cumprido, que guardarei para sempre no álbum das minhas melhores memórias. As dificuldades que enfrentei – e foram muitas e algumas de grande complexidade – aproximaram-me de todas aquelas pessoas e tornaram os resultados – que são necessariamente colectivos e não individuais- muito mais saborosos.
- Como acha que se pode evitar o que aconteceu nos incêndios do Algarve no ano transacto?
As condições que o nosso País apresenta, quente e seco, no período do verão, associada a outras variáveis, potenciam situações no âmbito dos incêndios florestais que nos obrigam à elaboração de um dispositivo especial e à tomada de medidas de excepção. Foi o que aconteceu no incêndio de Tavira, que representou uma das mais complexas operações de protecção civil vivida no país, e que obrigou ao envolvimento de mais de um milhar de operacionais e centenas de meios terrestres e aéreos. O país tem que continuar a trabalhar – especialmente na área da prevenção - para que situações desse tipo não voltem a ocorrer.
- De que forma os Bombeiros irão sentir o comando de proximidade que falou em implementar?
No dia da minha posse como Comandante Operacional Nacional afirmei: ”Conheço integralmente as minhas competências, alicerçadas no SIOPS, mas perdoem-me os presentes, a minha origem está nos Bombeiros e jamais a negarei, permito-me até referir que julgo conhecer bem as variáveis desta complexa equação, pelo que os CB’s encontrarão no desempenho das minhas funções todo o apoio para o desiderato da vossa missão”. Ou seja o Comando de proximidade de que falei aplica-se no seu todo e não de forma parcial, pelo que essa proximidade resulta da forma de eu funcionar e não de nenhuma implementação em concreto.
- Que pensa que falta fazer ao nível do comando dos bombeiros para melhorar a intervenção?
As funções de Comando em qualquer CB’s são hoje de uma grande exigência, aos mais variados níveis, pelo que hoje, e fruto dessa exigência que é praticada, já assistimos a intervenções em diferentes acções de socorro com níveis de operacionalidade de excelência. Contudo, o desafio passará sempre pela permanente disponibilidade para doutrinar o conhecimento, ter um efeito multiplicador da formação recebida, a superior atitude de saber delegar, sempre no pressuposto de que só todos sabem tudo.
- Quais julga ser as maiores necessidades dos corpos de Bombeiros?
Por um lado a Formação, esta será sempre uma necessidade, numa postura de “open mind”, até porque a progressão na carreira está directamente relacionada com determinada formação. Por outro lado e atendendo à situação de conjuntura que o País atravessa, não será difícil prever, que em muitos CB’s as suas maiores necessidades prendem-se com eventuais dificuldades financeiras.
- Como vê o fraco investimento na formação dos corpos de bombeiros e como pensa que seja possível resolver isso, falando mesmo do caso da formação pré-hospitalar (TAS) estar apenas nas mãos do INEM?
Entre 2010 e 2012 foram realizadas pela ENB – entidade que em Portugal tem responsabilidades na formação de bombeiros - cerca de 4000 acções de formação, compreendendo quase 50.000 formandos. Não se pode afirmar que tenha havido um fraco investimento em formação. Tenho conhecimento da intenção de se proporcionar, este ano, mais formação na área da condução defensiva. Esta necessidade está relacionada com o elevado número de acidentes rodoviários envolvendo bombeiros e respectivos veículos.
- Considera que o voluntariado continuará a ser a gema do socorro em portugal ou podemos estar em vésperas de uma militarização\profissionalização?
O voluntariado em Portugal constitui um capital social de tal ordem de grandeza, que em nenhuma circunstância poderá ser posta em causa a sua continuidade, para além de outras formas de vínculo que os operacionais do sistema possam encontrar a cada momento.
- Que acha que deve ser feito para promover o trabalho dos Bombeiros em Portugal, tão mistificado pela visão de que só existimos no verão? (em relação a esta pergunta, acha que deveríamos ter um gabinete dentro da ANPC que promovesse a imagem dos bombeiros? à semelhança do gabinete de comunicação e imagem do INEM?)
Os Corpos de Bombeiros, agentes de protecção civil por excelência, são devidamente reconhecidos pela sociedade portuguesa, devido, entre outros valores, à sua obediência esclarecida, disciplina consentida, sentido do dever, coragem de discordar, superior vontade de compreender e aprender e total abnegação. Não creio que exista essa percepção de que os Bombeiros só existem no verão. O gabinete de comunicação e imagem do INEM servirá um propósito específico, não necessariamente (ou desejavelmente) transferível para o contexto da ANPC, cujas atribuições, entre outras, passam pela coordenação operacional de dezenas de entidades.
- Julga importante pensar-se num futuro próximo a criação de uma central única, nacional, onde todas as forças de segurança e socorro estivessem concentradas, na base da ideia do 112.pt mas sem centrais dispersas (CODU, CDOS, PSP etc. tudo no mesmo edifício?
O que julgo ser importante é demonstrar a todo o instante disponibilidade e saber para acolher as melhores ferramentas, as melhores metodologias, as melhoras orgânicas, sempre orientados num processo de melhoria continua.
Deixe, em estilo de mensagem, algumas palavras para os leitores desta entrevista.
Independentemente das opiniões que nem sempre serão convergentes, quanto à forma e aos métodos, o que reputo sempre de muito saudável, estou convicto que quando se trata do essencial, isto é, da protecção da vida e dos bens dos nossos concidadãos, todos se empenharão, com a maior dedicação, permanente disponibilidade e no máximo das suas capacidades, pelo que espero poder contar com cada um dos Bombeiros Portugueses, porque todos eles poderão contar com o seu Comandante Nacional. Bem Hajam.
Sem comentários:
Enviar um comentário