O abandono da floresta e as alterações climáticas tornaram a propagação dos incêndios “menos previsível”, explicando alguns dos acidentes em que morreram bombeiros, disse o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Soares.
“Temos uma floresta maltratada, abandonada e sem planeamento”, declarou Jaime Soares à agência Lusa, a propósito de vários acidentes graves em que bombeiros faleceram ou ficaram feridos.
Na sua opinião, o estado de abandono a que chegou a floresta portuguesa “demonstra que há falta de coragem” do Estado e das autoridades em geral “para fazerem cumprir muitas leis”. Existe em Portugal “uma floresta que nem cadastro tem, nem planos de prevenção”, lamentou, defendendo um incremento da plantação de espécies autóctones de folha caduca, como o carvalho e o castanheiro, em detrimento de árvores “altamente inflamáveis”, designadamente o eucalipto e o pinheiro.
O líder da LBP, que desde a juventude está ligado aos bombeiros, entende que alguns dos acidentes que vitimaram nos últimos anos membros de diferentes corporações envolvidos no combate aos fogos se explicam pela violência dos incêndios e pela imprevisibilidade da sua progressão no terreno. Nessas situações, os bombeiros “não actuaram por aventureirismo, nem falta de conhecimentos”, sublinhou.
Contrariando investigações científicas e dados oficiais das autoridades quanto às causas dos fogos florestais, Jaime Soares estima que “quase 80%” sejam de origem criminosa. “A negligência, ela própria, é criminosa em 95% das situações.”
Para Jaime Soares, que é também presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, importa garantir uma “vigilância mais eficaz” das áreas florestais, a fim de prevenir fogos de origem criminosa ou negligente. Assim, cabe ao Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR, criado em 2006, assegurar uma “vigilância dissuasora”. “A grande e primeira função do GIPS, já que existe, deveria ser a vigilância armada da floresta”.
Actualmente, mais do que há algumas décadas, as alterações climáticas, com secas prolongadas, repercutem-se na violência dos fogos, “aumentando o risco” para os operacionais que os combatem.
“Muitas vezes, de repente, os bombeiros ficam cercados pelas próprias chamas, devido à mudança do vento e aos sucessivos focos secundários, como aconteceu no sábado”, quando faleceu uma bombeira de Coja, no concelho de Arganil, salientou. A bombeira morreu e quatro colegas ficaram feridos, um deles em estado grave, quando foram cercados pelas chamas em Barril do Alva, naquele município.
Poucas horas depois, em Cernache, arredores de Coimbra, uma viatura dos Bombeiros Municipais da Lousã capotou, tendo daí resultado cinco feridos do acidente.
Também em Agosto um bombeiro de Figueiró dos Vinhos morreu quando participava no combate a um incêndio.
Segundo Jaime Soares, “Portugal tem de rapidamente inverter este estado de coisas”, apostando no ordenamento florestal, na “vigilância armada”, no combate ao êxodo rural, no aproveitamento da biomassa e na pastorícia, devendo o Estado incentivar a criação de gado caprino.
Fonte: Público
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