quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

E depois do fogo? Os efeitos dos incêndios - PARTE 2

Os mecanismos referidos, juntamente com a maior evaporação das camadas superficiais, contribuem, à partida, para uma diminuição da húmidade no solo e para diminuir a alimentação dos lençóis de água subterrâneos. No entanto, a queima da vegetação tem também um efeito contrário, na medida em que desaparece a grande superfície de folhas, através das quais a água é reenviada para a atmosfera por transpiração. De acordo com estudos recentes realizados em Portugal, o aumento de água armazenada no solo durante o Verão, devido à eliminação da transpiração das plantas pelo fogo, pode ultrapassar os 100 litros por metro quadrado.

Um dos efeitos directos de um incêndio é a produção de gases derivados da combustão. Muito embora a composição desses gases seja relativamente complexa, eles são sobretudo compostos por vapor de água e por dióxido de carbono (CO2). Este efeito dos incêndios na atmosfera ganhou recentemente uma importância acrescida, em virtude do aquecimento global do planeta como consequência da elevada produção de CO2. A contribuição dos incêndios para o aumento dos níveis de CO2.na atmosfera é enorme, não só devido a incêndios naturais ou acidentais, mas também em boa parte devido a práticas tradicionais com fins agrícolas e pastoris, que se verificam ainda um pouco por todo o Mundo. Interessa ainda referir que um incêndio implica a perda, para a atmosfera, de quantidades consideráveis de azoto, o que tem um impacto importante do ponto de vista da nutrição das plantas.

Nas plantas

O efeito mais drástico que uma comunidade vegetal pode sofrer após a ocorrência de um incêndio é a morte imediata de todas as plantas. No entanto, dificilmente assim acontece, já que a mortalidade directamente provocada pelo incêndio normalmente não atinge todas as plantas e numa comunidade vegetal existem quase sempre espécies que voltam a lançar rebentos após a passagem do fogo. Por outro lado, no caso das árvores, nem sempre o fogo atinge as copas e, mesmo quando tal aconteça, os danos causados nem sempre implicam a cessação das suas funções vitais.

Esta cessação pode acontecer devido a dois tipo de mecanismos válidos para qualquer planta: a cessação permanente ou temporária da fotossíntese, devido à destruição das folhas, e o bloqueio do processo de transporte da seiva elaborada, devido à morte dos tecidos vivos do caule (em particular o câmbio e o floema). Tanto num caso como noutro há que ter em conta não apenas o aumento da temperatura, mas também a duração do aquecimento. Deste modo, quanto maior for a temperatura menor é o tempo necessário para provocar a morte dos tecidos em questão. Por outro lado, diferentes espécies possuem diferentes tipos de protecção ao nível dos vários órgãos. Por exemplo, em relação aos tecidos vivos do tronco das plantas lenhosas, a sua resistência ao fogo depende bastante da espessura e da natureza da casca. Por sua vez, as características da casca da árvore estão bastante dependentes da espécie e do seu estado de desenvolvimento.

Dentro da mesma espécie, as árvores mais velhas são normalmente menos danificadas pela passagem do fogo, não só devido à maior espessura da casca, mas também devido à maior altura a que se encontram os ramos mais baixos. Por outro lado, as árvores mais jovens têm normalmente maior capacidade de recuperação relativamente aos danos sofridos. Em estudos realizados em pinheiros bravos com 10 anos de idade, as árvores conseguiram recuperar após taxas de desfoliação da ordem dos 75%. Um caso notável é, sem dúvida, o do sobreiro, o qual apresenta uma resistência ao fogo verdadeiramente excepcional; devido ao efeito isolante da cortiça, os tecidos vivos do tronco conseguem resistir ao calor e desta forma contribuir para a regeneração da copa queimada.

Sem comentários: