Numa altura em que a Associação
Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Bragança (AHBVB) comemorou os 122 anos
de existência, o seu presidente faz um balanço positivo dos seus cinco anos de
mandato à frente de uma instituição que, ao contrário de muitas do país, não
está a sofrer com os problemas financeiros causados pelos cortes no transporte
de doentes. Em entrevista à Voz do Nordeste, Rui Correia deixa ainda em aberto
a possibilidade de se recandidatar ao cargo para um novo mandato.
Voz
do Nordeste (VN) – Que balanço faz destes dois mandatos à frente da direcção da AHBVB?
Rui
Correia (RC) – Sou
de opinião que tem sido bastante positivo. Quando iniciámos o mandato anterior,
o quartel estava num estado muito mau e neste momento está praticamente novo.
Mas considero que o mais importante têm sido as pessoas, pois as várias equipas
de trabalho têm sido fantásticas.
VN
– As obras deste quartel, que apresentava alguns problemas até de infiltrações,
são a sua principal bandeira?
RC
– Sim,
conseguimos canalizar parte das verbas que vamos conseguindo obter, algumas do
Estado e também da Autoridade Nacional de Protecção Civil, para obras. Além
disso na maior parte das obras que se fizeram, a mão-de-obra foi dos nossos
bombeiros, que de forma voluntária fizeram um excelente trabalho. Praticamente
só tivemos de adquirir os materiais.
VN – O que é que foi feito e o que é que ainda falta fazer?
RC
– Começámos
pela criação de uma camarata feminina, foi retirada toda a humidade do corredor
de baixo, foram abertas janelas, criadas arrecadações, remodelámos o chão do
salão multiusos, o telhado tinha infiltrações e foi composto, os balneários
masculinos foram melhorados, toda a estrutura interior e exterior foi pintada.
Criámos um salão nobre, que funciona como um museu e o último investimento foi
feito na modernização da central. Antes de terminar o mandato queremos ainda passar
a secretaria para o piso de baixo, rés-do-chão, facilitando o acesso aos
utilizadores dos serviços.
VN – Como é que se conseguiu financiar essa intervenção?
RC
–
Com uma gestão equilibrada e com muito trabalho, pois esta corporação tem a
componente de transporte de doentes com muito trabalho uma vez que fazemos
cerca de quatro mil quilómetros por dia e muitas das verbas provêm daí. Depois
é uma questão de as equilibrar e penso que nós temos sabido fazer isso, mesmo
com a dívida que a Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste tem para connosco.
VN
– Tiveram o apoio da câmara de Bragança?
RC
–
Sim, o apoio da autarquia tem sido fundamental. O que a autarquia nos transfere
é o equivalente a 10 por cento do nosso orçamento. Os cerca de 120 mil euros
que recebemos por ano servem para pagar parte dos ordenados das equipas que estão
permanentemente no quartel e que asseguram a segurança dos cidadãos de
Bragança. Também os operadores de central são pagos pela câmara. Prestamos à
autarquia vários serviços - todos os dias vamos ao aeródromo fazer a segurança
ao avião na aterragem e descolagem, transportamos água às populações, limpamos
vias rodoviárias, apoiamos com as nossas viaturas (autoescada, por exemplo), de
entre outros serviços.
RC
–
Sim, principalmente nas viaturas de transporte de doentes, as ambulâncias.
Estávamos a comprar uma média de duas por ano e só não comprámos no ano passado
e este ano. Em relação à linha de protecção e combate a incêndios, o anterior
Governo colocou-nos cá uma viatura nova e temos vindo a modernizar a nossa
frota. Adquirimos ainda quatro autotanques cuja lavagem foi suportada pela
autarquia porque antes faziam o transporte de combustível e agora estão ao
serviço no abastecimento de água às populações.
VN
– Ainda são necessárias mais viaturas?
RC
–
Acho que estamos razoavelmente bem equipados. O comando não tem feito chegar à
direção nenhum pedido especial. Talvez precisássemos de uma viatura de comando
porque um dos carros todo-o-terreno que tínhamos despistou-se num dia de neve e
ficou irremediavelmente danificado. Gostaríamos era de ter viaturas mais
modernas.
VN
– Como é que a Associação tem estado a lidar com as mudanças registadas no
transporte de doente não urgentes?
RC
–
Para já não temos sentido problemas. Nós temos pensado sempre um pouco mais à
frente, pois quando o problema começou a surgiu nós introduzimos de imediato
algumas alterações. Quando algum doente nos liga a pedir uma ambulância, nós
dizemos-lhe quanto é que o serviço lhe vai custar e se quer o serviço mediante
esse valor. Para evitar problemas de “pequenas” dívidas, que neste momento andam
na ordem dos 25 mil euros, resultante deste tipo de serviços, equipámos as
nossas ambulâncias com serviço de pagamento por multibanco. Assim as pessoas
pagam logo e resolvemos o problema, porque às vezes estamos a falar de 10 euros
que ficam por pagar durante muito tempo. No restante serviço, nós concorremos
em parceria com as corporações de bombeiros de Macedo de Cavaleiros e de
Mirandela ao transporte de doentes não urgentes da ULS Nordeste, mas o concurso
está suspenso. Uma das contrapartidas que nós dávamos era o assegurar da
segurança no heliporto sempre que o helicóptero do INEM aterra e descola. Nós
já o fazemos mas o serviço é pago à parte.
VN
– Quanto é, neste momento, o valor da dívida que a ULS Nordeste tem com a AHBVB?
RC
–
São aproximadamente 350 mil euros. A ULS Nordeste não nos pagava desde Agosto
de 2010. Nas reuniões que já tivemos foi-nos dito que iria começar a ser pago o
ano de 2012. De facto já nos pagaram o mês de Janeiro e também algumas facturas
em atraso de 2011.
VN
– O valor em dívida causa constrangimentos à associação?
RC
–
Há dois anos que não compramos nenhuma viatura, como anteriormente referi. Estávamos
a fazer pagamentos aos nossos fornecedores a 30 dias, mas agora está na casa
dos 90 dias. Temos de lhes pedir paciência, mas no fundo estamos a aguardar e
tem sido um pouco difícil. Há mais constrangimentos, claro. Aguardamos a
solução do problema.
VN
– Dos contactos que tem com a direcção da ULS Nordeste há indicações para novos
pagamentos em breve?
RC
–
Informaram-me que ao final deste mês de Junho será
saldada cerca 60 por cento da dívida. Já vem ajudar a equilibrar as contas. Se
não tivesse sido a sensibilidade da autarquia, que viu o problema e transferiu
as verbas protocoladas dentro dos prazos, tínhamos passado por mais
dificuldades.
VN
– Com esse dinheiro já será possível implementar novos projectos?
RC
–
Gostava de concluir o mandato, em Dezembro, com o cumprimento das nossas
promessas eleitorais, ou seja, modernizar a entrada do edifício com a passagem
da secretaria para lá e adquirir mais duas ambulâncias, entre outras coisas,
num investimento aproximado de 240 mil euros.
VN
– Vai recandidatar-se a um próximo mandato?
RC
–
Ainda é muito cedo para falar disso. Os elementos dos corpos sociais da
Associação, direção, conselho fiscal e mesa da assembleia geral, são
voluntários, não recebendo um cêntimo que seja pelo seu contributo no
engrandecimento desta causa, e tendo em conta o dinheiro que esta casa
movimenta por ano, começa a exigir uma gestão profissional ou semi-profissional.
Se não houvesse boa vontade entre todos, não seria possível, mas a verdade é
que cansa um bocado. Só com a ajuda de todos foi possível conduzir esta
“empresa”, por isso agradeço a todos os que no dia-a-dia colaboram para
engrandecer esta Associação Humanitária, pois têm sido uma fantástica ajuda.
Aos elementos que comigo fazem parte da direção tenho uma palavra de profundo
agradecimento pela colaboração e pela dedicação.
1 comentário:
Parabéns Presidente, fico com a ideia de que eram necessários mais Presidentes de Direcção com essa vontade e dedicação.
Um abraço Amigo Rui. :)
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