Ocorreu na passada semana a descoberta de um corpo de uma idosa que terá morrido no seu apartamento, na zona urbana de Lisboa, tendo o seu corpo permanecido durante 9 anos naquele local, sem que ninguém tivesse tomado qualquer atitude de socorro ou procura. Uma vizinha diz nos meios de comunicação social que tentou junto das autoridades procurar dentro de casa, ou lançar uma busca, mas ninguém fez nada. Quanto á família nada se sabe. Possivelmente se fosse rica já teriam procurado o corpo e bens. Mas situações destas não deixam de ser acontecer no nosso distrito. Mesmo na cidade existem pelo menos 3 casos de idosos que sofrem doenças súbitas ou quedas, estando estes sozinhos em casa e o socorro tarda a chegar em tempo útil. Acho mesmo que este assunto não deve ser abordado com se tratasse de um problema pontual, mas sim de um problema social.
Dos três casos ocorridos na cidade de Bragança, 2 em Dezembro do ano transacto e 1 já este ano, trataram-se de pessoas com alguma idade com problemas de saúde que tendo sido afectados por uma doença súbita ou queda não tiveram como aceder aos meios de comunicação para pedir ajuda.
Uma destas situações deu-se com uma senhora de cerca de 70 anos que descia umas escadas da sua habitação e terá caído dentro de casa. Terá ficado inconsciente devido á queda e só houve conhecimento do problema quando um familiar foi bater á porta, mas não houve resposta. Procurando pela casa conseguiu vislumbrado a senhora ao fundo das escadas e terá alertado os Bombeiros. Apesar de não ter havido um grande espaço de tempo desde que a senhora ficou sozinha em casa até que terá sido pedido socorro acabou por ser fatal para a vitima, tendo esta acabado por falecer já no hospital.
Outro caso ocorreu na zona histórica de Bragança, quando fomos alertados pelos vizinhos de uma senhora também idosa que não teria vindo á rua naquela manhã. Mesmo com a manhã gelada que se fazia sentir naquele dia, os vizinhos tentaram contacto com a idosa, que morava sozinha numa casa antiga. A televisão encontrava-se ligada no rés do chão confundindo os gritos de pedidos de socorro da moradora. Os Bombeiros e a PSP foram chamados, mas perante as as trancas na porta a PSP não conseguiu abrir a porta. Com a ajuda dumas escadas os bombeiros conseguiram entrar dentro da habitação pelo 1º andar e encontraram a idosa no rés do chão caída sobre o chão frio e impossibilitada de se mexer. Em hipotermia, hipoglicémica, hipotensa e sobretudo desorientada, terá caído ao inicio da noite do dia anterior passado mais de 12 horas é que pôde receber socorro. Mas foi graças aos vizinhos que foi salva.
Já este ano outra idosa que mora sozinha no centro da cidade iria receber a visita de familiares ao principio da noite, mas qual o espanto dos familiares que não obtiveram resposta por parte da senhora de 70 anos. Preocupados, contactaram os bombeiros, que rapidamente enviaram meios para entrar em casa, e com a PSP conseguiram entrar pelo 1º andar, com recurso á quebra de vidros de uma janela. No interior da casa estava então a idosa caída no chão, em estado muito debilitado, que teve de ser transportada para o hospital. Não se sabe ao certo á quanto tempo estaria no chão caída, sem aquecimento em casa, mas foi o suficiente para pôr em risco a vida desta senhora. Felizmente também esta situação teve um final feliz.
Mas estes casos desconhecidos da sociedade, por falta de informação, não revelam a frequência de ocorrência destes casos de esquecimento ou abandono de idosos, levando muitas vezes á morte de alguns. Sobretudo os idosos com problemas de saúde são um grupo de risco, em sociedades socialmente mais evoluídas, levando esta evolução á quebra de relações sociais entre vizinhos ou amigos. O concelho de Bragança está relativamente bem dotado quanto ao numero de existência de lares ou casas de acolhimento, mas haverá sempre mais procura que oferta. Este lares ou casa de acolhimento são importantes no ponto de vista da colocação e vigilância de idosos, mas nem sempre é acessível a todos, sendo que a existência de centros de dia não é menos importante que os lares.
Os centros de dia têm um papel importante em duas vertentes: a ida dos idosos ao centro certifica o seu estado de saúde que caso não compareçam em determinado dia é possível procurar por eles, e a distribuição de alimentação obriga uma conexão com os auxiliares durante certa altura do dia, atestando também o seu estado de situação. Muitas vezes os Bombeiros acabam por ser alertados por estas equipas na chegada os seus pontos de distribuição de alimentos para situações em que idosos adoecidos não conseguem ou não sabem pedir ajuda.
O envelhecimento da população no nordeste trasmontano faz-se notar cada vez mais, sendo que já é altura de se tomarem medidas de protecção passiva para com a possível existência de casos de idosos a morar sozinhos. Existem em Portugal já alguns projectos em que idosos possuem mecanismos de activação de emergência, ou até centrais de comunicação que todos os dias contactam os idosos por telefone ou se eles activarem uma espécie de comando que anda sempre junto a eles, e caso não se consiga falar com o utente, imediatamente são activados meios de socorro. Há também a possibilidade do incentivo á criação ou manutenção das redes de solidariedade de vizinhança, que ainda existem em alguns bairros da cidade, mas que têm tido tendência a desaparecer.
Por: Paulo Ferro - Bomb 2º Cl. BVBragança
Este é um artigo de opinião. O seu autor é totalmente responsável pelo seu texto.
1 comentário:
No Nordeste Transmontano é notório o aumento do envelhecimento da população, sendo que nos dias que correm é ainda mais difícil a disponibilidade de tempo da parte dos familiares e os meios económicos são escassos para que sejam transpostas infinitas listas de espera para lares que ocupam muitas das vezes vagas não pela prioridade, mas pela “fidelidade” de factos que transcendem os mais pobres.
Não há somente o abandono em lares, mas é triste, viver uma realidade cada vez mais habitual em hospitais: idosos completamente abandonados, que após uma alta não têm qualquer apoio ou meios de inserção social. E ainda há quem tenha coragem de para além de ver os seus idosos como um fardo, preocupando-se apenas na perda de bens materiais se estes tiverem oportunidade de encaminhamento para unidades de convalescença, lares, etc.
Isto é pura degenerescência do espírito social! Todos nós vamos um dia ser idosos, que se tornam dependentes como uma frágil criança. Nem todo o idoso é velho e há velhos que nem chegaram ainda a idosos… Unem-se gerações, mudam-se mentalidades. Depende apenas de cada um de nós mudar este grotesco facto social.
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