Os bombeiros negligenciaram a forma de atuação em sete dos oito casos mortais que ocorreram no passado verão durante o combate a incêndios, conclui um inquérito preliminar já entregue ao Ministério da Administração Interna.
De acordo com o inquérito elaborado pelo investigador Xavier Viegas, os bombeiros negligenciaram a forma de atuação, ao violarem regras de segurança. Houve erros de manobra, mau posicionamento no terreno e ainda erros na abordagem aos sinistros, referem as principais conclusões, adiantadas em primeira mão pela Antena 1 e confirmadas pelo JN.
O próprio Xavier Viegas, contactado pelo JN, limitou-se a confirmar que entregou a versão preliminar do relatório ao Ministério da Administração Interna.
No entanto, Carlos Coelho, comandante dos Bombeiros Voluntários do Estoril - que perdeu um bombeiro -, confirmou ao JN a acusação de negligência por parte dos bombeiros. Essa informação foi avançada aos responsáveis das corporações de bombeiros durante uma reunião com o presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil (APNC). "Não tomámos conhecimento do documento na totalidade. Apenas de excertos do relatório do professor Xavier Viegas e de um outro realizado pela Afocelca (agrupamento de bombeiros profissionais criado pelos produtores florestais)", disse, acrescentando existir uma terceira investigação, a cargo da ANPC, cujos resultados não foram revelados.
Segundo o comandante dos Voluntários do Estoril, entre várias causas para os acidentes, foram atribuídas "algumas responsabilidades" às chefias operacionais com intervenção direta nos cenários. Porém, Carlos Coelho diz não se rever "minimamente nessas conclusões", sublinhando que "trechos de relatórios" não espelham a totalidade das conclusões.
Luís Martins, comandante dos Bombeiros Voluntários de Miranda do Douro, que perdeu dois bombeiros este verão, disse ao JN que ainda não foi informado das conclusões do inquérito. Mas sobre a responsabilidade atribuída aos bombeiros não lhe parece justa. Espera para ver o relatório, antes de fazer mais comentários.
Só no distrito de Viseu, no incêndio do Caramulo, morreram quatro bombeiros, em dois acidentes distintos. E Rebelo Marinho, presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Viseu, numa reação às acusações sobre os bombeiros, foi duro: "Este é um relatório coxo e, como todos os relatórios pagos, servem o pagante [o Governo]", afirmou, indignado com as conclusões .
"Quando num relatório se diz que os bombeiros estavam mal posicionados, importa também que diga quem ordenou esse posicionamento", afirmou. "Desta vez, a culpa não morreu solteira. Morreu casada com as mortes. Casada e queimada. Os bombeiros culpados já não falam", concluiu.
Oito bombeiros mortos
Este ano morreram oito bombeiros durante operações de combate a incêndios florestais. É o pior registo desde 1986.
Daniel Falcão, bombeiro de 25 anos da corporação de Miranda do Douro, morreu a 6 de setembro no Hospital da Prelada, no Porto, mais de um mês depois de sofrer graves queimaduras no incêndio de Miranda do Douro de dia 1 de agosto.
Também a 6 de setembro, realizou-se o funeral de Fernando Manuel Reis, de 50 anos, da corporação de Valença, que faleceu na sequência dos ferimentos sofridos num incêndio a 29 de agosto, em Sanfins.
Nesse mesmo dia de agosto, morreu Cátia Pereira Dias, de 21 anos, da corporação de Carregal do Sal, e ficaram feridos outros quatro operacionais envolvidos no combate às chamas na Serra do Caramulo.
Um desses feridos, Bernardo Cardoso, de 19 anos, também bombeiro de Carregal do Sal, faleceu dia 3 de agosto.
Bernardo Figueiredo, de 23 anos, esteve internado no Hospital de São João, no Porto, durante cinco dias, também na sequência de ferimentos no incêndio na Serra do Caramulo (Tondela) e morreu a 27 de agosto.
Do incêndio da Serra do Caramulo tinha já resultado a morte da bombeira Ana Rita Pereira, de 24 anos, da corporação de Alcabideche, a 22 de agosto.
A 15 de agosto, Pedro Miguel Rodrigues, de 40 anos, bombeiro da Covilhã, morreu num incêndio perto da localidade de Peso.
Um bombeiro de Miranda do Douro, António Ferreira, de 45 anos, que ficou gravemente ferido num incêndio florestal entre Cicouro e São Martinho de Angeira, também não resistiu aos graves ferimentos sofridos no início de agosto e acabou por morrer.
Fonte: JN
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