Vila Pouca de Aguiar, 12 mar (Lusa) - Um rebanho de 50 cabras está a fazer a limpeza de mato e, ao mesmo, a reduzir os riscos de incêndios florestais em Vila Pouca de Aguiar, no âmbito de um projeto-piloto de pastoreio dirigido.
O projeto "Economountain, economia da biodiversidade nas serras de Vila Pouca de Aguiar", está a ser implementado pela associação Aguiarfloresta e representa um investimento de 160 mil euros nos próximos dois anos.
A área de intervenção, nesta primeira fase, corresponde ao planalto de Jales.
"Este projeto visa testar uma nova ferramenta de gestão do mato, para ajudar a resolver o problema dos incêndios que ocorrem nesta região", afirmou hoje Duarte Marques, responsável da Aguiarfloresta, no decorrer de uma visita técnica em Alfarela de Jales.
A associação está trabalhar com um rebanho de 50 cabras, que vai pastorear uma área de 90 hectares. Os animais, através da ingestão da biomassa, reduzem o combustível para um incêndio.
O que se está a fazer é, segundo o responsável, um tipo de pastoreio mais dirigido, em que se usam os animais em locais estrategicamente identificados como sendo favoráveis à redução do número de ocorrências e também à limitação da expressão do fogo.
O pastor Francisco Carocha, o primeiro a aderir ao projeto, explicou que os animais permanecem numa área cercada durante cerca de uma semana até efetuaram a limpeza desse terreno.
"Venho aqui deixar os animais e depois venho buscá-los ao final da tarde. Antes, tinha que andar o dia todo com elas pelos montes a apanha chuva e vento", salientou.
A opção pelo gado caprino justifica-se com o facto de se tratar de animais mais robustos, que se adaptam a ambientes mais agrestes, ajustados a territórios de montanha e que consomem tipos de vegetação que a maioria dos outros animais não consome.
Associadas ao projeto estão outras técnicas de intervenção, como a limpeza de matos através das equipas de sapadores florestais ou o uso do fogo controlado.
Duarte Marques salientou que a iniciativa visa ainda apoiar e valorizar a atividade da pastorícia, muitas vezes associada ao fogo posto para a renovação de pastagens.
"Queremos contornar a imagem negativa dos pastores e mostrar que eles podem ser agentes importantes na prevenção e resolução dos problemas dos incêndios", frisou.
A associação dá apoio ao nível da comercialização dos produtos, ajuda a resolver os problemas diários relacionados com o licenciamento ou registo dos animais. "Tentamos ajudar para que eles mantenham a atividade", salientou.
Outra componente do projeto é a valorização dos produtos locais.
A ideia é incentivar os restaurantes locais a aproveitaram os recursos do território, como as castanhas, os cogumelos, os cabritos, apostando também "em novas formas e mais baratas de preparar os produtos".
A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está também estudar os impactos desta estratégia a nível da biodiversidade, se favorece ou não as espécies locais e se poderá ser alargada a outras regiões.
No âmbito do projeto, a Aguiarfloresta promove no dia 22 de março o workshop "Biodiversidade de montanha". No dia a seguir será feita uma visita técnica a Jales subordinada ao tema o "Pastoreio dirigido na gestão florestal".
PLI // JGJ
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