O
investigador Domingos Xavier Viegas disse hoje, em Coimbra, que Portugal não
está preparado para lidar com incêndios de comportamento extremo, como o que
ocorreu no último verão no Algarve, que consumiu 25 mil hectares.
"Temos
melhorado muito o sistema de Proteção Civil desde 2003, mas ainda há trabalho a
fazer", referiu o professor universitário, numa palestra sobre "A gestão de
grandes incêndios", organizada pelo Colégio Regional de Engenharia Florestal e
pelo Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade.
Perante
uma plateia constituída maioritariamente por comandantes de bombeiros, bombeiros
e técnicos de proteção civil, Xavier Viegas utilizou o grande incêndio do
Algarve, um dos seis maiores de que há registo em Portugal, para explicar
comportamentos do fogo e falar da necessidade de experimentar novos métodos,
nomeadamente ao nível do posto de comando.
Segundo
o investigador, que realizou o relatório daquele incêndio para o Governo, as
mudanças que podem trazer ganhos aos sistema de Proteção Civil passam pela
melhoria do treino, das ferramentas que são usadas no apoio à decisão dos postos
de comando e da comunicação com as autarquias e as populações.
Embora
não consiga prever a ocorrência de fogos de grande dimensão, o professor Xavier
Viegas frisou que, desde 2003, se têm registado incêndios "muito grandes" com
áreas superiores a 10 mil hectares, "que não se verificavam no passado". "Isso
não acontece só em Portugal, mas em outros países do Mundo, e uma das causas
pode ser o aquecimento global que estamos a observar há umas dezenas de anos,
que está a ser acompanhado de períodos de seca mais prolongados", disse.
O
docente, que leciona na Universidade de Coimbra, considera que a abertura de uma
rede de faixas primárias de contenção em volta das localidades é uma forma
"prioritária" de prevenir, ajudar ao combate incêndios e minorar os prejuízos
das populações.
Xavier
Viegas recordou que, no caso do grande incêndio do Algarve, a área ardida estava
referenciada desde há vários anos como uma zona onde era necessário abrir 256
quilómetros de faixas de proteção, mas que lamentavelmente apenas 50 quilómetros
tinham sido concluídos.
O
investigador de Coimbra lamentou ainda que fundos comunitários que poderiam ser
utilizados na prevenção não sejam gastos por Portugal e tenham de ser devolvidos
à União Europeia. "Dou o exemplo dos 10 milhões de euros que em 2006/2007 não se
encontraram para fazer as faixas na zona ardida no Algarve, e seguramente que
deve ter existido o dinheiro neste período de tempo, mas agora apareceram de
repente sete milhões de euros para recuperar a área depois de queimada",
sublinhou.
Fonte: DN/Lusa
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