No cruzamento, segundos antes de chegar ao Hospital do Barreiro, Fernando Figueira não conseguiu evitar o despiste da ambulância. "O sinal estava vermelho e parei: do lado esquerdo e do lado direito os dois camiões cederam a passagem e eu segui", relata o motorista dos Bombeiros Voluntários da Moita que transportava uma senhora para o hospital. Instantes depois, um veículo particular chocou contra a ambulância: "Não consigo explicar como aconteceu, acho que o camião tapou a visão ao condutor do carro e ele apanhou-me na roda de trás." Fernando Figueira e a senhora idosa, que minutos antes sofrera um ataque súbito em casa, saíram ilesos. Quem não teve a mesma sorte foi o socorrista, que sofreu graves lesões na cabeça. O acidente aconteceu em Janeiro deste ano.
"Quando temos uma criança de três anos sem conseguir respirar, quase a entrar em paragem cardíaca, é normal que sejamos menos profissionais e mais agressivos", diz Ricardo Rocha, o presidente do Sindicato de Ambulâncias de Emergência. A condução mais agressiva ocorre normalmente a caminho do local do acidente e sempre nos cruzamentos, porque o condutor comum não se sabe posicionar perante um veículo de emergência, adianta p sindicalista.
Em Portugual, cerca de 700 técnicos de viaturas de emergência do INEM conduzem as 87 ambulâncias particulares do Instituto e todos vivem na ansiedade de salvar vidas. Não são os únicos. Os Bombeiros Voluntários (BV) são responsáveis por 193 viaturas de emergência do INEM, graças a um protocolo que existe entre cada associação dos bombeiros e o Instituto. Mas os voluntários são os únicos condutores que não têm qualquer formação específica e, "muitas vezes, pagam do seu próprio bolso os cursos profissionais", conta ao i Ricardo Rocha. O INEM garante que, em média, regista três acidentes por mês. A protecção civil não disponibiliza os números relativos aos acidentes com os bombeiros voluntários. Mas o presidente da Associação de Técnicos de Emergência Médica Pré-Hospitalar, Nelson Baptista, avisa que 99% dos acidentes acontecem por negligência do condutor do veículo prioritário. "A má selecção de pessoas, a falta de avaliação psicotécnica e formações inapropriadas" são, para Nelson Baptista, as principais causas de sinistralidade em marcha de urgência assinalada."Quando temos uma criança de três anos sem conseguir respirar, quase a entrar em paragem cardíaca, é normal que sejamos menos profissionais e mais agressivos", diz Ricardo Rocha, o presidente do Sindicato de Ambulâncias de Emergência. A condução mais agressiva ocorre normalmente a caminho do local do acidente e sempre nos cruzamentos, porque o condutor comum não se sabe posicionar perante um veículo de emergência, adianta p sindicalista.
Em Agosto de 2009, uma ambulância do INEM embateu contra um motociclista no centro do Porto, depois de passar um sinal vermelho, provocando a morte de Rui Severino de 23 anos. O técnico do INEM foi acusado de homicídio. Fonte oficial do Instituto recusa comentar o caso, mas o i teve conhecimento de que uma notícia publicada pelo "JN," sobre o alegado estado de alcoolemia do condutor, originou uma investigação policial.
Em Portugal não existe legislação que obrigue os condutores de veículos prioritários a terem formação específica. E os critérios para conduzir um veículo de emergência divergem. A experiência é um dos principais requisitos e, no caso dos BV, é mesmo o factor principal. É necessário também averbar à carta de condução a categoria de condutor de veículo prioritário. Para isso, é preciso uma certidão médica que comprove as habilidades físicas e psicotécnicas. Mas, de acordo com Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, é possível obter esse atestado por 70 ou 80 euros. "É uma disposição meramente burocrática e é absurdo cobrar a indivíduos que não recebem qualquer remuneração pelo trabalho que fazem um valor tão elevado". Tudo para um averbamento que diz,não trazer nenhum acréscimo de competência.
Em 2008, o INEM criou o Núcleo de Condução em Emergência (NUCE), um centro de formações internas com destaque para a "postura de emergência e segurança no trânsito." Helena Castro, coordenadora do NUCE, explica que os padrões de exigência aumentaram e ninguém passa no curso sem fazer uma "bateria de testes psicotécnicos, comportamentais, de inteligência, personalidade e reacção ao stress". A coordenadora assegura que fez uma proposta à direcção do INEM, há cerca de um ano, para que o NUCE passasse a abranger a Escola Nacional dos Bombeiros, dirigida também por Duarte Caldeira. Mas a proposta ainda não foi concretizada: "Como pode imaginar, estas formações são muito caras - precisamos sempre de quatro carros disponíveis e mais cinco formadores. Duarte Caldeira concorda.,E diz que não faz qualquer sentido os motoristas dos bombeiros não terem acesso a um quadro de formações como o NUCE, sendo que eles próprios conduzem as ambulâncias do INEM.
Fonte: ionline.pt
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